sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Suposto evento maníaco

Há uma confusão enorme quanto à finalidade dos remédios. O objetivo dos medicamentos chamados remédios não é outro senão remediar. A cura vem a seguir, com um pouco de sorte, pelo próprio organismo do indivíduo. Isso parece simples, mas médicos contestam.
Tive uma experiência um tanto esclarecedora quanto ao assunto. Considerando-me uma pessoa normal, sujeita a todo tipo de engano, fui internado em uma clínica de orientação psicossocial. Isso corresponde aproximadamente a um manicômio. A diferença é que clínicas são teoricamente divididas em prédios com funções diferentes. Um dos prédios trata dependentes químicos, outro acomoda pessoas com problemas mentais. Havia também uma terceira casa – a casa branca. Para os visitantes é chamada casa de triagem. Para nós, internos, era descrita como casa de contenção.
Mesmo dopado de elementos químicos estranhos ao organismo, recebi de um dos internos um livro muito interessante. Dizia no livro que qualquer homem comum em situações incomuns age de modo incomum. Acordar em um manicômio é incomum, aconteceu comigo. Isso me fez aproveitar a situação e desenvolver minhas próprias observações.
Uma delas é que parte dos dependentes químicos de cocaína, por exemplo, poderiam ser tratados com uma dose concentrada de cafeína. A idéia é que o cérebro, acostumado às grandes velocidades de processamento típicas das reações da coca pudesse se habituar ao estado “elétrico” característico de quem gosta de café. A aplicação me pareceu óbvia: um usuário de cocaína geralmente faz uso paralelo de álcool. Na verdade, pessoas utilizam cocaína para reduzir os efeitos negativos da embriaguês e manter-se naturalmente acordadas após boas doses. É o meio que conhecem para evitar perder o objetivo da noite, quer seja uma parceira ou as cenas que permeiam o evento.
Pessoas que usam cocaína o fazem para elevar o processo de raciocínio. Muitos passam em concursos porque a utilizam como um meio de aumentar a perspicácia e a compreensão. A questão é que o uso continuado costuma produzir efeitos diversos do desejado, tais como a depressão, a irritabilidade dentre outros.
Pareceu-me óbvio então que uma pílula de café concentrada entre alguns goles obtivesse o mesmo efeito, em menor escala. O segredo está também na água ingerida em concomitância com o remédio. Isso permite que o cérebro não sofra os danos da ressaca pelo simples fato de continuar hidratado durante a noite.
Claro, nunca fiz o teste. Na verdade, desconheço as propriedades da cocaína justamente porque não faço uso. Meu caso é diferente. Quando criança fazia um esforço fenomenal para prestar atenção nas aulas. Havia um sono intenso que impedia a concentração. Esse sono desapareceu com a mudança de rotina que obtive ao ingressar nas FAA.
A rotina de quartel facilita ao organismo preguiçoso desempenhar gradualmente uma oxigenação ideal no cérebro, aumentando a capacidade de raciocínio. Embora cada organismo tenha maior ou menor grau de suscetibilidade a respostas de estímulos externos, é inegável que algumas flexões de braço sejam capazes de oxigenar o cérebro, tornando-nos mais “atentos”. Paguei poucas flexões em meu recrutamento. Dez no total.
Um dos casos mais curiosos que acompanhei na clínica onde estive internado foi uma moça chamada Márcia. Ela chegou louca de crack. Foi trazida pela família, e recebia doses imensas de Haldol com Fenergan. O HF, como é chamado carinhosamente o “amansa leão”. Pessoalmente acho um veneno. Causa confusão mental e faz com que a memória não exceda alguns momentos. Qualquer ser humano fica burro como um peixe, se é que se pode dizer que peixes sejam burros – o peixe Oscar tem memória de 15 segundos. Eu tinha um antes de ser internado. Morreu algumas semanas após a internação, de saudades do dono.
Márcia estava em péssimas condições. Elétrica o tempo todo, dava um trabalho danado para os técnicos de enfermagem. Márcia tinha medo, provavelmente de agulhas.
Um dia percebi que não tinha mais cigarro na casa branca. Foi o dia que torci para ninguém intervir numa das experiências psicológicas mais óbvias que existe: a amizade. Estendi minha amizade a Márcia com apenas um cigarro. Ela acalmou-se. Conversamos.
Descobri que enquanto estava sedada foi abusada por outro interno. Um cara que chamávamos de “Jack”. Jack havia sido internado por doença mental, decorrente de reações da aplicação de anti-rábica. Policial militar que era, salvou um garoto de um cachorro na rua, mas foi mordido. O resultado é que sua personalidade oscilava entre sociopata e criminoso. Um dia, aproveitando-se da impossibilidade de ser monitorado pelos poucos técnicos em enfermagem, masturbou-se e gozou na cara de Márcia. Ela estava sob efeitos do Haldol e outros medicamentos. Dopada.
Claro que é possível que a mesma desejasse o ocorrido naquele momento. Mas ao recobrar a consciência apresentava um pânico disfarçado ao ver o “Jack”. Os internos mais conscientes tinham conhecimento do ocorrido, e os técnicos que o sabiam por ouvir falar faziam vista grossa. Nada podia ser feito. A realidade é que os internos são inimputáveis legalmente – impossibilitando sobremaneira a apreciação policial. Enfim: teoricamente o que acontece na clínica morre na clínica. Inclusive os indivíduos, como foi o caso de um dos pacientes. Enforcou-se.
Mesmo dopado de remédios decidi fazer o que estivesse ao meu alcance para que Márcia estivesse bem. A alegria de Márcia quando os remédios foram reduzidas era simplesmente contagiante. Raras vezes observei alguém com alegria de criança. Brincava com todo mundo, conversava bem. Tudo o que precisou foi encontrar novos amigos, destes que desaparecem sem deixar pistas. Foi onde entrei no circuito.
Em questão de três dias resolvi o que os médicos não conseguiram. Com algumas piadas, algumas brincadeiras e absoluta sinceridade de propósito dei segurança para Márcia. Isso foi suficiente para que se acalmasse. Os técnicos em enfermagem fizeram notas sobre sua melhora e em pouco tempo ela estava reintegrada à outra casa, a casa dos pacientes com problemas mentais. Um dia depois, estava livre. Sua permanência na clínica foi menor que a minha.
Ou seja: aproveitei a internação involuntária (que é proibida por lei, se considerarmos que ninguém pode ser obrigado a tratamento que não queira) para fazer algumas pesquisas. Em alguns momentos de lucidez, quando o Depakote era anulado pelo café, percebia claramente que quando dizem que o problema das drogas é uma questão social, o foco é distinto do que se imagina. O contexto social onde o “paciente” está incluso repercute nos motivos pelo qual utiliza uma, outra ou todas as substâncias disponíveis para manter-se no estado mental desejado. Alguns usam cocaína por ser visualmente impossível denunciar – ninguém fica fedendo com cocaína. Outros utilizam Canabis para acalmar os nervos, tal qual é feito com o extrato de maracujá. A questão social é que o maconheiro – seja um usuário eventual ou um viciado – é rotulado como criminoso ou doente. Isso faz com que a paranóia de ser pego em flagrante transtorne seu pensamento, tornando-o instável. Essa é parte da descoberta médica relativa à consciência de vários dos internos com quem conversei.
Conheço usuários de círculos diferentes, principalmente fora das clínicas. A diferença entre a sanidade de um ou outro depende de seu contexto social. Maconheiros (esse termo parece pejorativo, mas é popular) de áreas ricas como o Plano Piloto em Brasília não são perigosos. Utilizam para poder estudar graças ao efeito benéfico sobre a capacidade de percepção.
Quando estava internado, sem cuidados, estava fora de alcance dos problemas sociais típicos de nossas relações diárias. Meu antigo chefe que me perdoe, mas era um pé no saco trabalhar com ele. Trabalhar com alguém com chefia e sem liderança causa irritabilidade. Fui um pouco louco quando saí do Centro Brasília para trabalhar no térreo numa das unidades mais complexas do país, após tantos problemas que envolviam o CINDACTA. Não é coincidência que eu o tenha feito, eu mesmo decidi. Talvez eu seja meio doido. Provavelmente.
Já outras pessoas que trabalhavam no térreo acreditavam que tinham controle sobre o incontrolável – as pessoas. Talvez eles sejam loucos também, dado ser impossível conter algumas personalidades fortes, nas quais humildemente me incluo.
E acho que vai levar algum tempo para as coisas ficarem normais, mesmo porque não sou o que as pessoas rotulam, mesmo as de casa. Vai levar algum tempo para atingir o que desejo, mas a vida continua. E a liberdade é constitucional.
Um quartel não é o lugar ideal para criar os filhos, na verdade é bruto como o inferno. E não há ninguém para fazê-lo em seu lugar. Mas crianças nascidas e crescidas no ambiente militar aprendem a ser tão adaptáveis ao terreno quanto qualquer soldado. Graças à internação involuntária, tenho condições de discernir exatamente que tipo de droga outra pessoa está utilizando, mesmo no silêncio do ambiente castrense. Importante deixar claro que isso não os torna menos capazes para qualquer atividade. O que causa transtornos ao serviço é justamente a mistura de drogas – mesmo as receitadas – com pressão. Isso nunca funcionou.
Eis aqui o que encontrei a respeito de personalidade, que se relaciona de algum modo à personalidade civil de qualquer indivíduo:
PERSONALDADE NORMAL E PATOLÓGICA
CONCEITO
Entendemos por personalidade “a síntese de todos os elementos que concorrem para a conformação mental de uma pessoa, de modo a comunicar-lhe fisionomia própria (Porot).
É claro que aí interferem inúmeras particularidades da constituição biopsíquica, associadas às impressões deixadas pelas experiências vividas. Podemos, assim, falar em integração de dados constitucionais e caracterológicos (Zimann).
Aqui o termo “constituição” está se referindo ao conjunto da “estrutura do corpo” e do “temperamento”. Poderíamos também restringi-lo ao conceito de “tipologia morfológica, separadamente do “temperamento”. Neste caso, a estrutura da personalidade seria integrada por tipo morfológico (constituição física), tipo temperamental (disposição emocional básica) e caráter (conjunto das experiências vividas), constituindo a personalidade.
Isso significa que psicólogos e psiquiatras cruzam informações sobre como é seu corpo e seu temperamento. Se você é magro como eu, será classificado como leptossômico – cara de rato, para o cidadão comum. Há leptossômicos calmos e nervosos, mas a genética não define tudo. Coisas que definem com mais precisão o temperamento do indivíduo são justamente o contexto social. Um homem nervoso pode ser extremamente dócil se viver em um condomínio cheio de mulheres bonitas e cerveja, assim como pode ser bastante explosivo caso conviva com uma mulher histérica. Isso propõe que para qualquer pessoa normal ser tida por diferente, há de se considerar a motivação.
Nos cursos básicos de medicina legal evita-se a controvérsia a respeito dos “instintos” e deixa-se de analisar a “motivação” do ato, por sua complexidade, pois exigiria amplitude que transborda os limites da pesquisa médica. A questão é que medicações são inúteis se não for tratado o motivo pelo qual alguém se altera. Por isso há pessoas de temperamento normal internadas em hospitais psiquiátricos tomando remédios pelo resto de suas vidas. O que a medicina providencia, neste caso, não é o bem estar do paciente. Realiza tão somente o socorro social das pessoas que não conseguem lidar com a situação: vizinhos e parentes. Uma pessoa dopada ou destituída de sua consciência integral não é uma pessoa sadia. Nem com remédios.
Assim, nela interferem fatores tipicamente heredoconstitucionais, de um lado, e sócio-ambientais, do outro.
CARACTERES BÁSICOS
A personalidade apresenta algumas particularidades, que são suas bases fundamentais:
a) Unidade e identidade - que lhe permitem ser um todo coerente, organizado e resistente;
b) Vitalidade – pois trata-se de um conjunto animado, hierarquizado, em que a vida se condiciona a oscilações interiores (fatores endógenos) e a estímulos exteriores (fatores exógenos), aos quais reage e responde;
c) Consciência – que a mantém informada a seu próprio respeito e também dos dados do meio que a circunda.
d) Relações com o meio ambiente – pois cabe-lhe regular a oposição entre o “eu” e o “meio” e manter sua consistência e estabelecer seus limites (Porot e Cammerer).
TIPOS NORMAIS
Não existe uma “personalidade normal”, senão inúmeras, conforme nos esclarecem os “tipologistas”. São vários e adotam critérios diversos (Bonnet). Eis alguns exemplos:
a) Critério biopsicológico – é o fundamento da “Biotipologia”, que foi muito usada nos estudos criminológicos clássicos.

Jung (Carl Gustav Jung), de formação psicanalítica, descreveu dois tipos básicos, com quatro variantes. São o “extrovertido” e o “introvertido”, conforme se volte mais à realidade externa ou à do mundo interno.
Pessoalmente, não creio em pessoa normal. É pouco didático afirmar que alguém que se submete a pressões sem esboçar reação seja alguém normal, um “normalóide” como disse certa vez a psicóloga Ely, alguém que reage no espectro de agitação normal. O normal, para um ser humano qualquer, é agir de modo anormal uma ou outra vez na vida.
A questão é que as informações prestadas muitas vezes merece juízo. Há pessoas que aumentam a história e causam prejuízos diversos. Nesse mister, a experiência pessoal é um conhecimento que nem mesmo psiquiatras podem negar: fazem parte das motivações exógenas. Fofocas.
Teve um dia, por exemplo, que comprei um uísque Red Label no melhor barzinho do Residencial Santos Dumont. Semanas depois fui internado. Nunca fui armado para barzinho e fiquei moscando com um trinta e oito na mão, como fiz na frente de meu pai.
Mas a história que ouvi na rua é que eu comi batata frita, tomei cerveja e conversei com diversas pessoas armado. Um absurdo. Quem lembrar daquela noite é testemunha de que transitei entre duas mesas e bati um papo com as garotas. O garçon também viu que eu estava desarmado, mas na cabeça dos psicólogos, de meus pais e de quem os interprete, eu estava moscando num barzinho com um oitão na cintura.
Processar quem, se nada ocorreu oficialmente?
O problema é que quando as “gossips” ou fofocas se geram em torno do indivíduo, cedo ou tarde todo mundo fica sabendo de fatos que não existiram.
Na clínica, a psicóloga Ely não teve tempo de me diagnosticar como normal. As informações prestadas pelos técnicos são imprecisas e pouco esclarecedoras. O que obteve pelo histórico de vida enquadra um leptossômico cíclico paciente. Não um transtornado.
Mas os médicos, que muito pouco conversaram comigo, me definiram como portador de Transtorno Bipolar Afetivo. Honestamente, não posso negá-lo.
Fiz por onde parecer. Isso me faz parecer louco? Provavelmente.
Mas pense duas vezes: o que um homem normal faria se fosse roubado por uma mulher em 1000 reais destinados ao conserto de um de seus veículos e possuísse naturalmente um Taurus .38?
Noventa por cento das pessoas que tive a curiosidade de perguntar responderam que iriam atrás e enfiariam um cartucho na mulher. Esses eu considero anormais.
Os dez por cento que restaram fariam diferente. Deixariam para lá. A violência não vale brigar por papel numerado. São as pessoas que considero normais.
Não sei o que um transtornado bipolar faria. Vou perguntar quando conhecer algum, mas meu procedimento é direto: reação de soldado.
Um soldado de guarda analisa o furo de segurança. Se uma guria com quem eu queria sair me rouba, há algum motivo exógeno, fora a facilidade. Na reação de soldado que tive antes da internação, utilizei algumas estratégias militares e descobri o que ocorria.
A guria precisa de tratamento. Lésbica, viciada em cocaína e álcool, surrupiou o dinheiro que encontrou para pagar ao traficante de sua namorada o vício conjunto. Tive essa confirmação quando abordei-a após o roubo, em seu ambiente, no Barulhos – parque da cidade. Após abordá-la discretamente, cinco malandros se aproximaram e cruzaram os braços. Tempo fechou conforme estimativa. Para a sorte, eu já havia acionado o Davi, um bom amigo, a fazer uma rota de 180, conforme aprendi na Escola de Especialistas. Ele saía para leste, eu para oeste. Ele me buscaria de carro no estacionamento do Parque de Exposições. Missão perfeita.
No entanto, os cinco primatas musculosos de braços cruzados só se afastaram quando adverti com toda arte cênica que o primeiro que entrasse no rumo levava um tiro de ogival. Eles deram um passo para trás e eu não disse nada para a garota.
Sumi no escuro, no rumo dos fundos do batalhão da Polícia Militar. O único que me seguiu abandonou a idéia quando divisou o quartel. Não precisei dar um disparo. Missão pessoal perfeita.
A adrenalina subiu. O raciocínio adquiriu ritmo de combate. Somou-se o serviço real – aquele que andava tenso. Havia divisado coisas desagradáveis e tomado posição. Muita gente não gostou. Tomei uma dose de “paratudo”. É uma bebida de ervas amargas, forte como o paladar do próprio goiano. Um suco de Gueroba escuro.
No meio do percurso, soldados da Aeronáutica na função de enfermeiros aplicaram-me outro paratudo: Haldol. Não houve a menor reação física – não os proibi.
Mas também não autorizei. Isso me deixou na situação de poder cobrar os excessos ou não juridicamente. Muita gente acha que a internação faz bem.
Eu não concordo, e só tem um jeito de concordar com qualquer psiquiatra:
Quando conhecer algum deles que já tenha sido internado.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cargos de Desconfiança

Daqui a três meses os governadores eleitos terão
de enfrentar um dos maiores pesadelos de um político. Como preencher as centenas de cargos de confiança que compõem um governo.

O número exato de cargos varia de Estado para
Estado. Para o governo federal eu já ouvi estimativas que variavam de 2.000 a 20.000 cargos a ser preenchidos.

A problema é que a maioria dos políticos não conhece um número suficiente de pessoas em quem realmente possa confiar. Ao contrário dos grandes executivos e profissionais que desenvolvem listas de colaboradores ao longo de suas carreiras, os políticos normalmente acumulam listas de pessoas em quem não se deve confiar, pelo menos politicamente. Poucos convivem, no dia a dia da batalha por votos, com administradores profissionais, orçamentistas empresariais, gerentes de RH e planejadores, profissionais necessários para um bom governo.

Por isso, as primeiras pessoas convidadas são normalmente amigos e parentes de irrestrita confiança. O desespero é tal que até genros, normalmente vistos com certa suspeita na escala familiar, são convidados para participar da equipe de governo. Não que amigos e parentes não possam ser pessoas competentes, mas a base de escolha é muito pequena para que a média seja qualificada. Imaginem criar uma seleção de futebol dessa maneira. Você apostaria no seu sucesso ? O mesmo ocorre com nossas equipes de governo. Você apostaria no sucesso de um governo assim constitúido ?

A primeira decepção de cada novo governo e a primeira crítica que a imprensa lhe faz ocorrem por ocasião do anúncio da equipe e dos parentes contratados. Insinua-se em alguns relatos, que parentes foram contratados para que todos se tornem ricos, o que pelos salários atuais do setor público é praticamente impossível.

O erro que a maioria dos políticos eleitos comete é desconhecer uma das leis básicas da administração: Todo cargo, seja público, seja privado, é de total e irrestrita desconfiança. Infelizmente, todo colaborador, por mais amigo que seja, precisa ser tratado com certa dose de desconfiança.

Os maiores desfalques em empresas familiares são cometidos por parentes, em que não escapa nem filhos, muito menos genros. Bons amigos então, nem se fala. De onde surgiu este mito de que amigo do peito e parente não roubam ?

Essa prática não é exclusiva de nossos políticos. A maioria de nossas empresas contrata diretores da mesma maneira, tanto que são chamadas de empresas ‘familiares’.

A saída para esse dilema é outra. Em vez de contratar um amigo do peito, selecione o melhor e mais qualificado profissional possível para o cargo, independente de conhecê-lo ou não. Em seguida, cerque o contratado de controles gerenciais, fiscalização interna , auditoria externa, o que for necessário para manter o pessoal na linha.

As multinacionais não trazem mais um presidente de confiança do exterior como faziam antigamente. Contratam brasileiros, sejam eles amigos dos acionistas ou não. Dois brasileiros, Alain Belda Fernandez e Henrique de Campos Meirelles, são presidentes da matriz americana das multinacionais em que trabalham, o equivalente a contratar um americano para cuidar de nossa dívida externa. No Brasil, o melhor administrador financeiro do país tem poucas chances de ser Ministro da Fazenda, se já não for amigo do presidente bem antes de sua eleição.

Cargo de confiança é simplesmente um conceito anacrônico, algo do passado pré-gerencial. Num mundo competitivo, todos os cargos, incluindo os do governo, precisam ser de total e irrestrita competência, e não de confiança.

A rigor, num mundo globalizado, onde temos de dominar alguns segmentos da economia mundial deveríamos estar contratando os melhores do mundo. Pelo menos algum dia vamos começar timidamente desde o início, contratando os melhores brasileiros.

PS – Se você, amigo ou parente de político, for convidado para um cargo de confiança nos próximos três meses sem ter pelo menos vinte anos de experiência na área, a nação encarecidamente implora : recuse delicadamente.