quarta-feira, 31 de março de 2010

Legal Tender

We're in the basement, learning to print
All of it's hot!
10-20-30 million ready to be spent
We're stackin' 'em against the wall
Those gangster presidents

Livin' simple and trying to get by
But honey, prices have shot through the sky
So I fixed up the basement with
What I was a-workin' with
Stocked it full of jelly jars
And heavy equipment
We're in the basement...
10-20-30 million dollars
Ready to be spent

Walk into the bank, try to pass that trash
Teller sees and says "Uh-huh-that's fresh as grass."
See the street pass under your feet
In time to buy the latest model get-away Jeep

So I fixed up the basement with
What I was a-workin' with
Stocked it full of jelly jars
And heavy equipment
We're in the basement

So I fixed up the basement with
What I was a-workin' with
Stocked it full of jelly jars
And heavy equipment
We're in the basement,
Learning to print
All of it's hot
All counterfeit

sexta-feira, 12 de março de 2010

Sangue de Caim

(Autor Desconhecido)

A maioria de nós concordava que Wallace era estranho, ou um pouco mais estranho do que as pessoas geralmente são. Havia longos períodos de tempo que ele passava como que paralisado por algum feitiço, contemplando o nada. Talvez meditando, talvez não, os maus pensamentos que lhe infligiam o coração; quem sabe até premeditando crimes. Nunca saberemos. Os seres humanos têm o condão de surpreender até a si próprios em seus sentimentos. Uma vez ouvi em algum lugar que a mente humana era semelhante a uma bacia. Uma delicada bacia de cristal cheia até a borda das águas tumultuosas do pensamento. Se enchê-la demais, o conteúdo se esparrama e você enlouquece. Acredito que tenha sido assim com Wallace. Ele namorara uma menina por cinco anos, os dois planejavam noivar, quando ela rompeu tudo para se casar com outro. Não quero justificar os atos dele. Longe de mim. Isso é besteira estado unidense. Mas quero que entendam que foi a última gota necessária para que atingisse o limiar, libertando seja lá o que tivesse na cabeça todos esses anos. Uma motivação. Mesmo os calhordas precisam de uma. De fato, principalmente eles.

2
O dia mais frio do ano, anunciava o rádio quando me levantei pela manhã para tomar banho, escovar os dentes e me preparar para ir para o quartel. Novamente eu estava de serviço, e como sempre, aborrecido por isso. "Serviço é uma merda", o tenente sempre repetia no briefing. "Mas nossa obrigação de militares é tirá-lo, e tirá-lo bem. Também passei pelo que estão passando. Hoje são vocês, amanhã serão os novos recrutas. A vida segue." Porém o amanhã nunca parecia tão distante quanto no dia de tirar o serviço. O detestável serviço. Serviço, se não sabem, é ficar retido no quartel 24 horas (ou 30 ou 48, reze para que não falte ninguém) guarnecendo o lugar. Deus sabe o suplício que é ter de fazer isto. Comesse mal, dormisse mal, cagasse mal; no frio ou no calor escaldante; na chuva ou voltado para o sol; com sua vida em risco e a responsabilidade de um armamento para cuidar. "O militar é superior a tudo", bradava o tenente ao final de seus sermões. Se for mesmo verdade, bela porcaria de militar eu fui. Pois mais de uma vez estive à beira de um colapso nervoso na escala apertada de um por um - um dia no quartel, outro em casa... um dia no quartel, outro em casa... um dia no quartel, outro em casa... durante seis terríveis meses.
Agora fazia muito tempo que entrara na escala, por isso já me conformara - melhor dizendo, ligara o automático e me tornara insensível ao drama desta realidade. Eu tinha de tirar o serviço, pronto e acabou. Inútil reclamar. Um dia de guarita ou vinte de prisão! O medo, sem dúvida, é a melhor política. Foi com esse espírito que saí de casa. Faltava pouquíssimo tempo para terminar o período militar inicial e eu podia vislumbrar claramente a luz no fim do túnel. Se tivesse sabido o que estava para acontecer...
Quando cheguei na Base Aérea dos Afonsos, o dia ainda mal clareara e uma densa neblina encobria os prédios brancos da Força Aérea. O Batalhão de Infantaria da Aeronáutica, a única edificação em todo o quartel pintada de verde, se destacava como uma verruga particularmente nojenta. Embora a feiosa aparência externa não refletisse em sua totalidade o caos interior do Batalhão - os banheiros decrépitos, a iluminação precária e os equipamentos em fase de decomposição. No portão, duas sentinelas engajadas numa discussão ferrenha sobre futebol me cumprimentaram com um aceno enquanto eu prossegui sem maiores problemas para o interior da unidade. Isto demonstrava bem a molambice, o desleixo que pairavam ali. Fosse eu um elemento estranho e tivesse más intenções, não me teria sido difícil rendê-los. Por sorte eu era apenas um outro soldado. Mas me causava calafrios pensar no dia que a pessoa a cruzar aquela entrada não seria um soldado ou um militar de todo, e sim um meliante disposto a matar. Até lá, se tudo corresse bem, eu estaria bem longe dali.
Fui ao alojamento trocar o paisano pela farda e encontrei Wallace acabando de se vestir. Nós estaríamos juntos na Base e eu fiz um breve comentário a respeito da porcaria do dormitório. Wallace retrucou que tanto fazia desde que o deixássemos dormir ao invés de ficar matraqueando em voz alta. Perguntei de provocação se ele se esquecera de fazer sexo antes de sair de casa. Wallace não respondeu, retornando ao seu silêncio habitual. Não lembro de termos nos falado outra vez até depois do anoitecer. Não que costumássemos conversar com freqüência. Na maior parte do tempo, eu lhe era completamente indiferente, nem percebendo a sua existência tola. Wallace era tão fechado que nos forçava a ignorá-lo.
Esbarrei com Jefferson no rancho, na fila para o desjejum. Ele discutia com Vitor o último episódio de algum desenho japonês. Os dois eram alucinados em anime e dispensavam boa parte do tempo livre que dispunham ao vício. Eles também estariam de serviço na Base.
"Vai haver aquele famoso sub-zero da Base de madrugada. Trouxeram o abrigo?", perguntei.
Abrigo é um tipo de casaco impermeável, bastante útil.
"E dá pra sobreviver sem ele nesse frio?", disse Vitor.
"Trouxe até meu par de luvas e minha toca. No serviço passado fiquei com os dedos e as orelhas congeladas na guarita. Nunca senti tanto frio na vida", Jefferson esfregou as mãos umas nas outras para enfatizar as palavras.
"Se o tempo não voltar a esquentar, vou acabar me tornando um pingüim. Só que um pingüim camuflado, diferentemente desses pingüins almofadinhas de geladeira."
"Espero que a rendição seja de carro e que o Oficial de Dia não seja um puto.. ou uma puta"
"Ultimamente a nossa equipe tem se fodido em todos os serviços"
"Ninguém foi buscar o senhor em casa, Guerreiro", retruquei rindo. "Veio servi de oferecido que você é."
"Ai, ai, mamãe, o que é que eu tô fazendo aqui?", cantarolaram meus companheiros, relembrando os velhos tempos de recrutamento.
"Quando a nova turma irá se formar? Os malditos recrutas têm de ir logo a pronto para assumir de uma vez os postos. Porra, eu não quero mais, não", disse Jefferson e nós todos demos boas gargalhadas.

3
Você já ouviu falar na espingarda de caça gaujo 12? Não? Sabe o que ela é capaz de fazer com uma pessoa? Também não? Pois bem, eu tive a oportunidade de ver de pertinho. Não há como não se impressionar. O estouro, o magnífico estouro! Se for atingido a uma curta distância, digamos uns 10 metros, não é possível escapar com vida. A espingarda... ela rebenta contigo. Se sobreviver ao impacto, você morre de infecção generalizada, sua merda se mistura com seus órgãos vitais, uma lambança.
O único problema com a espingarda é que por ser uma arma de dispersão ela não é nem um pouco confiável para atingir alvos distantes. Se puder abrir fuga e distanciar-se antes que o atirador toque o gatilho, estará a salvo.

4
Briefing de serviço são as instruções que o militar recebe de seu superior no início da missão. O Oficial de Dia, o tenente que ficará responsável pela segurança do quartel pelas próximas 24 horas, reúne sua equipe (soldados, cabos e sargentos) e passa para ela as ordens do coronel-comandante. Na maior parte das vezes, nada muda de um serviço para o outro, tornando o briefing chato e repetitivo. Infelizmente, pela lei militar, o tenente é obrigado a recitar a ladainha da Norma Padrão dos Postos (NPA) a cada novo serviço, mesmo trabalhando com subordinados experientes. Por exemplo, caso não seja informado que está proibido usar qualquer espécie de aparelho eletrônico no posto de serviço no briefing de dia e um soldado for encontrado escutando MP3 Player na guarita e alegar que não sabia que não podia fazê-lo, embora todos saibam pelos briefings de serviços anteriores que não é permitido, o Oficial de Dia será responsabilizado juntamente com este militar. Daí o porquê de ficarmos meia-hora em forma escutando aquilo que já estamos cansados de saber.
"Chamada... Ezequiel"
"Ê-zequiel"
"Jefferson"
"Jeffersú"
"Diego"
"Dieegu"
"Cossatis"
"Cossati..."
"Vitor"
"Vitoooor"
"Canabarro"
"Canabarro, senhor"
"Cândido"
"Cân-di-do"
"Sansão"
"SD. Sansão"
"Virgilio"
"Virgilio!"
"Fonseca"
"Aqui, Fonseca"
"Mon... Mondeini?..."
"É Mondaini, senhor"
"Floriano"
"Flo-ri-an-noooo"
"Wallace"
"Wallace, senhor", disse Wallace com rouquidão. A voz lhe parecia ter sido arrebatada no espaço entre as cordas vocais e a boca, chegando como um murmúrio indefinido aos nossos ouvidos.
"Fale alto, militar!"
"Malucão, não é possível", implicou Cossatis. "O senhor parece uma normalista falando"
Os olhos de Wallace percorreram os rostos ao seu redor, nervosos. Sua face estava muito corada agora. As mãos trêmulas apertavam a espingarda contra o corpo. Tornou vacilante a responder: "Wallace, senhor", e foi saudado por risos histéricos da rapaziada.
O tenente interrompeu a exclamação, sério. "Posso começar meu briefing?"
"Sim, senhor", respondemos. Fez-se silêncio. Wallace encarava o chão de concreto sob seus pés como se de repente ele fosse particularmente atraente. Eu não podia ver seus olhos naquele momento, e Deus seja louvado por isso. Pois com certeza o que encontraria neles não seriam lágrimas, mas sangue, injetando cada pequeno vaso do globo ocular, dilatando as pupilas e espremendo as íris, sangue quente de ódio frio de assassino; Sangue de Caim é como meu falecido avô o descrevia.
"Dúvidas quanto à utilização do armamento?"
"Não, senhor"
"O armamento está municiado, alimentado e descarregado? O cão da arma está à frente?"
"Sim, senhor"
"Dúvidas quanto aos postos de serviço?"
"Não, senhor"
"Alguém com algum problema que o impeça de tirar o serviço hoje?"
"Não, senhor"
"Todos estão portando sua identidade militar?"
"Sim, senhor"
"Os sargentos ou cabos querem acrescentar alguma coisa?"
"Sim, senhor"
"Diga, sargento Kobayashi"
"É só para lembrar que eu não quero a rendição atrasando. Deu a hora de ir render o companheiro, tome um choque na bunda e levante sem reclamação. O serviço é 24 horas, não adianta fazer corpo mole. Também lembrar os senhores que alojamento é para dormir, não é para ficar batendo papo ou ouvindo radinho. Não quero baderna no dormitório. Vou estar bem ali do lado; se houver alteração lá dentro, o militar será lançado no livro. Não adianta vir de conversinha depois, dizendo que precisa engajar, que tem conta para pagar e família a criar. Pense nisso antes de fazer besteira para não se arrepender. Quem estiver insatisfeito, peça baixa do serviço militar, mas por favor não encha o nosso saco. Ah!, acho que não preciso nem dizer, né? Está absolutamente proibido brincadeira com o armamento. Ninguém deve tocar na arma, exceto em uma situação real. Entendido?"
"Mais alguma coisa?"
"Não, senhor"
"Sargento, por gentileza, proceda com o fora de forma"
"Sim, senhor", o sargento Kobayashi se posicionou diante da tropa, em posição de sentido. "Atenção grupamento... Sentido!... Com licença, tenente... Sargento Kobayashi se apresenta e solicita autorização para proceder com o fora de forma..."
"Está autorizado, Kobayashi"
"Equipe... Fora de forma... Marche!"

5
"RENDIÇÃO!"
Numa enxurrada, a Equipe de Serviço do dia anterior subiu correndo no ônibus enquanto nós, a atual Equipe de Serviço, com um serviço inteiro pela frente, íamos arrastando os pés, cabisbaixos para o alojamento. Os únicos apressadinhos eram aqueles que teimavam em todo serviço ficar nas poucas camas debaixo do ventilador e aqueles cujas costas eram provavelmente feitas de algodão e precisavam pegar dois, três colchões, quando na verdade o correto era que pegasse apenas um. Acabou que Sansão e eu ficamos sem colchão. Começamos a reclamar.
"Olha, não queremos nem saber, se não aparecer um colchão para cada um de nós dormir, vamos logo chamar o Oficial de Dia para resolver o problema"
"Pestana tá com dois colchões", acusou alguém.
"Vou dá o papo", retrucou Pestana. "Pega o colchão de um mais novinho aí no bagulho. Ou então pega lá do alojamento dos antigos. Vocês ficam sem colchão e já vem pra cima do Pestaninha aqui... o Júnior, esse novo, tá com dois colchões, por que não pegam dele?... dele e do Mondeini..."
"É Mondaini... E pegar meu colchão porra nenhuma! Pega dos antigos! Do Júnior, esse pela-saco, pode pegar também"
"Júnior Pela-Saco", gritou Cossatis, empoleirado no alto de um beliche.
"Pô, tudo é culpa do Júnior nesse alojamento?", reclamou Júnior, indignado.
"Que está acontecendo? Qual é a zona que vocês estão aprontando?", o sargento Kobayashi acabava de surgir no umbral do dormitório.
Sansão e eu explicamos a situação.
"Só não vou me aborrecer com esses moleques - qual esse Júnior vagabundo - por que Jesus pede que nós tenhamos paciência com as pessoas. Até com as mais idiotas", disse Sansão.
"Não tem nem discussão", avisou o sargento. Foi até a cama de Júnior e Pestana, arrancou-lhes o colchão sobressalente e nos entregou. "Espero não ter mais problemas com a equipe."
"Quoé menor, qual foi? Vai dar alteração no serviço. Tô falando sério", disse Pestana, contrariado.
Daí a pouco, depois que o sargento Kobayashi saiu, ele se levantou da cama, foi ao cômodo separado onde era o alojamento dos soldados antigos e surrupiou deles um colchão para si.
"Ah!, Pestaninha tá tranqüilão agora! Dois colchões de patrão!", tornou a se deitar, sorrindo.

6
São três militares por posto de serviço. O serviço é dividido entre eles em quartos de hora. Os quartos de hora têm duração prevista de duas horas, aproximadamente. Um militar fica no posto e os outros dois descansam. O quer dizer que se descansa quatro horas a cada duas horas ativo no serviço. Eu estava no segundo quarto de hora. O terceiro quarto me renderia somente após ter almoçado e eu só almoçaria depois que fosse rendido. Meu estômago já estava roncando.
Meu posto de serviço era o 1M (Primeiro Móvel), um dos oito postos de serviço da Base. Resumidamente, minha missão era rondar ao longo da transversal que englobava o Prédio do Comando, os Ranchos, o Grupo de Transporte de Tropas, o Grupo de Aviação, o PARA-SAR, a garagem e o estacionamento, observando se algo de errado aconteceria por ali. Para tal, eu estava munido com a sempre insignificante pistola engasgabel 9mm e 14 munições divididas em dois carregadores, além de um colete balístico pela hora da morte fedendo mortalmente a suor. Aliás, este era o padrão dos equipamentos fornecidos pela FAB - ultrapassados e sujos!
No meu posto ainda havia uma guaritinha - a bem da verdade estava mais para uma toca que para uma guarita - da qual podia olhar a rua e a movimentação fora do quartel. Era lá que eu ia para matar o tempo infindável do quarto de hora, principalmente durante o expediente quando era grande o trânsito de militares.
E estava eu tão concentrado naquela guaritinha, os olhos fixos na vida vibrante do mundo exterior, que fui tomado de susto ao olhar para o relógio e descobrir que passava de uma hora da tarde. O mostrador verde e arranhado do meu relógio marcava exatamente 1h07 pm. Para variar, a rendição estava bastante atrasada. Catei do chão o colete (sempre o tirava do corpo na guarita) e tornei a vesti-lo de qualquer maneira sobre a farda.
Nesse ínterim, a rendição saía do rancho para me apanhar.

7
Brhummm!, ouvi. E então... Pof! Pof! Taf! Erhhhh! Paf!
A ridícula caminhonete da rendição (uma Toyota bandeirantes azul, bastante esculachada, com a marcha fodida e apenas um dos faróis funcionando) chegou ao 1M trepidando e parou com um ronco seco. Canabarro desceu da carroceria do veículo e veio pegar comigo o colete balístico. Andava em seu jeitão tipicamente largado, os braços moles balançando ao lado do corpo, a cobertura torta na cabeça. Sorriu-me os dentes salientes. Desejei-lhe boa sorte e embarquei decidido no caminhão.
O caminhão partiu num arranque assustador e adentrou a área da baiúca, onde tradicionalmente os pára-quedistas se reuniam para saltar. Ali ficava o 2M, o responsável pela segurança de toda a Área Operacional do Campo dos Afonsos. A sentinela da hora era o Vitor, que foi rendido por um Cossatis desanimado. Passado o 2M, a rendição seguiu em direção aos dois postos mais distantes e isolados da Base, o 5F e o 7F: duas guaritas perdidas na extensão do longo muro que se estendia de Sulacap a Marechal Deodoro; completamente afastadas do restante do quartel; voltadas para a pista de pouso e para o matagal da Zona de Lançamento. De lá a Base era um amontoado minúsculo de prédios erguido no horizonte.
Na carroceria da Toyota, Vitor e Pestana discutiam a respeito de um caso particularmente curioso que ocorrera no Hospital de Aeronáutica dos Afonsos.
"Comeram uma piranha no Hospital, o menor antigo deu o papo", dizia Pestana. "Levaram a piranha para o alojamento dos soldados e sentaram a piroca bonito!"
"Deve ser mentira. Soldado antigo é cheio de historinha", insistia Vitor.
"Tô falando, rapa. Os moleques filmaram o bagulho. Botaram a mina de lado, levantaram a perna dela para o ar, vieram por trás e... Vrauuu!"
Pestana desatou a rir. "Vagabundo alopra no Hospital..."
"E quem era a garota? O que aconteceu com ela?"
"Era estagiária da Radiologia. Os menor desenrolaram com o sargento e o tenente e se safaram. A piranha foi demitida, lógico. Dizem que até os faxineiros e o pessoal da obra estavam socando nela"
"Vagabundo é foda!", bradou Vitor. "Vagabundo é mesmo foda. Para os moleques que também fizeram a merda não deu nada?"
"Claro, irmão. Pô, os parceiros são militares, estavam de serviço, vem essa piranha com a xereca coçando, tu queria que eles fizessem o quê? Se eu tivesse de serviço no dia, teria bagunçado ela. Teria mostrado a cabeça de maça para aquela puta. Ela ia como... diz tu... sentar!"
"Você não é noivo, Pestana?", falei.
"Qual foi, Virgilio? Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa bem diferente. Parece que não sabe..."
Eu sabia. Perguntava por força do hábito.
"Espero que sua a noiva também entenda que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa diferente"
"Tá de mancada, Virgilio. Na boa, minha costelinha tá em casa, sossegadinha, limpinha, só esperando o Pestaninha... Ih, até rimou, rapa"
"Sorte sua ter tanta certeza"
Taf! Taf! Finalmente o caminhão chegara ao 5F e ao 7F, e a rendição dos quartos de hora estava concluída.
"Toca para o rancho, cabo!"
Eu estava quase dilacerado de fome.

8
A parte da tarde do serviço transcorreu tranqüila, apesar de alguns pequenos incidentes, que relatarei abaixo:
Após o cabo ter nos deixado no rancho, ainda levamos bem uma meia-hora para conseguirmos comer. Isso porque o sargento Fernandez, responsável pelo andamento e manutenção do rancho, estava num daqueles dias em que não tinha nada melhor para fazer do que sacanear um bando de soldados famintos. Tivemos de esperar em forma, olhando para a sua cara de bunda ("procurem as chaves do refeitório no meu cu", zombava o sargento), até o Oficial de Dia chegar e pôr um jeito na situação. Só assim pudemos entrar para almoçar o frango frito com farofa, a especialidade da Força Aérea.
Ezequiel, um soldado magro de nariz curvado e orelhas de abano, primeiro quarto do 1M, foi encontrado em seu quarto de hora arrancando cocos com o auxílio da sentinela do 2M, Jefferson. Eu estava indo rendê-lo quando o cabo o pegou em flagrante. Não houve punição. O cabo confiscou os cocos de Ezequiel e o assunto foi esquecido.
Júnior, primeiro quarto do 5F, teve uma tremenda de uma dor de barriga no posto de serviço. Fulminado pela caganeira, desceu às pressas da guarita para defecar no matagal. Sem ter com o que se limpar, teve de ficar cagado até ser rendido. Fazia um dia claro, a despeito do frio. O sol batia diretamente no 5F. O que fez o posto se impregnar do cheiro da merda pelo restante do mês.
Sansão, um moço evangélico, sentinela do 4F, foi obrigado pelos demais soldados a assistir um filme pornô (Xerecas em Fúria 2). Era a primeira vez que ele assistia algo dessa natureza. Segundo o próprio Sansão relatou depois, "aquele DVD despertou o Adão que havia nele."
Uma das amigas de Pestana ligou para informá-lo que vira sua noiva de passeio pelo shopping com um sujeito musculoso, que atendia no Orkut pela alcunha de Paulão PQD. Fazendo-se de desentendido, Pestana alegou se tratar do primo da garota.
Cândido atazanou no alojamento até a hora do jantar. Sua rendição passara com dez minutos de atraso - o que ele julgava inadmissível.
Floriano assistiu ao filme do Pelé no MP4. Ahhh, muleque...
Enquanto isso, Wallace nos estudava em silêncio. Sem que nenhum de nós percebesse o brilho maligno de seus olhos.

9
Em grande parte, não vivenciei os crimes da noite de 24 de junho, nem posso afirmar ao certo como se passaram. Muito daquilo que leram adiante é suposição minha. Como eu imagino o desenrolar das mortes de meus companheiros e das ações desvairadas de Wallace. Entretanto, exageros à parte, os resultados foram os mesmos tanto para a ficção quanto para a realidade. Gostaria ser possível escrever um final diferente. Para a minha infelicidade, não possuo o poder necessário. Porque, afinal, esta é uma história real. A realidade pode ser enfeitada, mas não desmentida. Sendo somente o humilde contista, minha obrigação é narrar os fatos da maneira mais concisa que eu conseguir. O leitor é livre para julgá-los à vontade.

10
Tivemos o pernoite (em termos simples, a repetição enfadonha do briefing de serviço da manhã) e fomos liberados para dormir. Antes o sargento Kobayashi distribuiu nossos lanches da noite: um pão com queijo amassado, uma bananada melada, um copo de guaraná natural artificial e uma simpática maça-anã.
Faltava ainda duas horas para eu ir render. Seria minha terceira vez no posto, minha penúltima vez nesse serviço. Está quase terminando, pensei ao fechar os olhos. Quase... mas só termina quando acaba, dizia o velho conhecido ditado.
Wallace estava de sentinela no 0F - um posto no alto da entrada principal da Base - e portanto um dos três militares tirando serviço de espingarda. Ele era do terceiro quarto de hora e foi rendido às nove horas da noite em ponto. Saiu do posto diretamente para o dormitório. O procedimento padrão, que não levantou suspeitas do sargento na sala ao lado. O que Wallace tinha em mente, contudo, era a porta dos fundos do alojamento. Não sentia um mínimo de sono. Apenas uma excitação diabólica.
Ele visitou primeiro o 2F. Fonseca estava lá. Wallace se aproximou com a espingarda em bandoleira e pediu a Fonseca para descer um instante. Tinha de trocar uma idéia sobre um assunto inadiável, qualquer coisa assim. Prontamente, Fonseca desceu da segurança da guarita para ouvir o outro, mesmo sem jamais ter existido assunto particular entre eles. E foi nessa hora que Wallace dominou-o e estrangulou-o com um fio de náilon, que lhe cortou o pescoço em três níveis diferentes. Fonseca caiu morto sem dizer palavra.
O posto seguinte era o 4F. O 4F ficava a uma distância considerável da guarda, porém Wallace ainda se sentia receoso de utilizar a espingarda. O barulho da arma era muito poderoso. Mondaini, entrementes, estava menos apático que Fonseca no posto. Talvez não fosse tão fácil agarrá-lo. Wallace se deteve um instante. Depois a lembrança do corpo ensangüentado de Fonseca, que não demoraria a ser descoberto, colocou-o a caminho. Era tarde demais para voltar atrás. Chamou Mondaini, novamente alegando uma desculpa esfarrapada. Mondaini não tinha motivos para confiar em Wallace, mas também não tinha motivo para temê-lo. Era um soldado, um colega, um irmão de armas, etc. Por que não desceria da guarita para lhe falar? Foi o que Mondaini fez, e tudo o que pode pensar antes do disparo da espingarda abrir um O em sua barriga foi que Wallace não deveria brincar com um armamento tão perigoso. Mondaini ficou estirado na poça de seu próprio sangue, perdendo lentamente os sentidos, agonizando até a morte. O disparo da espingarda foi abafado pelas trovoadas e pela chuva que começou a cair bem nesse momento.
Ensandecido, Wallace saiu em disparada para um 1M. Ria sem parar correndo em meio à chuva para sua próxima vítima, Ezequiel; que tivera a infelicidade de pegar o quarto de hora errado naquele serviço. O pobre Ezequiel ouvindo seu radinho debaixo de uma marquise, sem esperar pelo pior. O pobre Ezequiel cujo último sentimento foi um tremendo susto por ver Wallace surgir daquela chuvarada com uma espingarda de caça apontada para ele. O disparo arrancou a cabeça de Ezequiel do corpo. Para ser mais preciso, o disparo lhe desintegrou os miolos e espalhou os estilhaços do crânio aos quatro ventos. Wallace chutou o corpo degolado de Ezequiel e foi em frente com suas diabruras.
Jefferson topou com Wallace indo do 1M para o 2M e foi morto sem que pudesse perguntar o que fora aquele disparo que ouvira. Digamos que ele descobriu tudo por experiência própria.
Era Júnior no 5F. Seus intestinos continuavam mal e ele só conseguia se concentrar na dor. Floriano teve de gritá-lo do 7F para alertá-lo da figura que se aproximava rapidamente deles. A chuva começava a apertar e Júnior pensava se não deveria ter ido para o 7F. E quem era aquele louco que corria para eles? Júnior deu o golpe na pistola. Wallace chegou até ele e gritou para que descesse. Júnior se recusou. Wallace hesitou pensando em Floriano que os assistia e depois pensou que não importava muito. Não pretendia mesmo sair vivo disso. Apontou para Júnior dentro da guarita e disparou. Júnior se jogou no chão, mas não rápido o suficiente para evitar ser atingido. "Eu não quero morrer", berrou Júnior. "Socorro!, eu não quero morrer." O disparo não havia sido fatal. Wallace subiu na guarita e encontrou Júnior ferido, rolando no chão. Ele gritava como uma mulherzinha. "Por favor." Wallace ergueu a espingarda e terminou o serviço.
Um tiro de pistola soou na direção do 5F. Era Floriano. Em pânico, ele atirava contra a figura aterradora que acabara com Júnior. Ainda não percebera se tratar de Wallace, nem fazia diferença. Urinava nas calças de medo. Tornou a disparar inutilmente contra o 5F; sem se atentar para o fato que a munição da pistola não alcançava tamanha distância.
Quanto a Wallace, ele avaliava suas chances. Só lhe restavam duas munições na espingarda. Havia a pistola do falecido Júnior, é claro; mas Wallace não a queria. Não precisava de muito mais para terminar aquilo pelo que vivera toda a sua vida. Tudo o que precisava era que Floriano morresse antes que ele próprio se fosse. Wallace nunca chegou exatamente a cogitar por que ele precisava disso. O que sabia é que precisava. Com todo o ódio de seu coração, ele precisava. Isso bastava para preencher sua infelicidade e aplacar sua tristeza. Não era um rapaz muito exigente. Partiu rumo ao 7F, rumo ao final da sua jornada, sem correria, com um desapego que lhe era alheio.
Floriano, em seu posto, se recuperara o suficiente para pressionar o alarme de emergência. Se o alarme ainda funcionasse, talvez tivesse uma chance. Continuava mirando em Wallace. Ele estava próximo agora. Incrivelmente Floriano ainda errava o alvo.
Wallace sorria de satisfação.

11
Quando o alarme tocou na guarda, houve o maior pandemônio que a Aeronáutica já vira desde a crise dos controladores de vôo. Os soldados saíram do alojamento se esbarrando, seminus, apontando seus armamentos para a cara uns dos outros, numa desordem infernal. O sargento e o tenente pulavam de lá para cá sem saber o que fazer. Estavam atacando o quartel! Era real! O que fariam? Chamariam a polícia? Bem, não poderiam. Afinal, eram militares - preparados e malvados! Tinham de fazer alguma coisa por eles mesmos.
Embarcaram todos no caminhão da rendição do jeito que estavam - alguns sem camisa, alguns sem boot, alguns totalmente pelados - e se lançaram na direção do 7F na maior velocidade que podiam. Era o soldado Lins na direção. E como se louco fosse, ele dirigia para o destino, derrubando latas de lixo pelo caminho, atropelando cães, arrancando faíscas da lataria da caminhonete nas paredes de concreto.
Wallace estava junto ao 7F, caído sobre os joelhos, alvejado por Floriano. O sangue jorrava abundante de seu peito. Seus olhos castanhos iam perdendo a cor, mudando para cinza. Ele estava morrendo, mas ainda segurava a espingarda firmemente, apontando-a para o céu como uma ameaça a Deus.
No alto da guarita, as lágrimas rolavam dos olhos de Floriano. "Não era a minha intenção", ele dizia. "Eu não tive escolha. Não tive escolha."
Estrebuchando, Wallace desabou de uma vez no chão. Parecia um peixe depois de ser arrebatado das águas de um rio. Um filete de sangue escorria de seus lábios para o asfalto.
Eu estava ali com os outros soldados no momento exato da morte. Vi os músculos de Wallace pararem, e então enrijecerem. Vi a vida o abandonar. Vi o sofrimento inconformado de Floriano - por que tinha de estar ali no 7F? Vi a perplexidade das testemunhas. Vi e vivi, e por isso escrevo.
Para que se lembrem, meus amigos. Para que se lembrem até o último dia de suas vidas.

Pane

Trambulador VW
• Para retirar o trambulador são 3 operações:

1) Remover a haste articulada forçando para baixo nessa região (mas com cuidado) com uma chave de fenda bem grande colocando ela entre o cambio e a haste e fazendo alavanca.

2) Folgar a abraçadeira que une o trambulador ao varão (aquela haste preta que vem do interior do veículo) e retirar totalmente o parafuso senão não sai. Procure memorizar a posição que estava mais ou menos.

3) Folgar o parafuso que une o trambulador ao eixo que sai do cambio (normalmente é um parafuso de cabeça quadrada)

Ele vai sair na sua mão...

Na montagem faça o inverso mas cuidado no passo 2. Deixe ele por ultimo. É o ponto mais importante pois essa é a principal regulagem da alavanca. Peça pra alguem ficar dentro do carro e segurar a alavanca bem centralizada enquanto você aperta a abraçadeira. Se depois não engatar todas as marchas faça a compensação folgando um pouco a abraçadeira e pedindo pra pessoa inclinar um pouco mais a alavanca pro lado oposto ao da marcha que se deseja engatar.
Ou seja: mais um item para tomar algum tempo. A garagem está desfalcada.

• Quantum
• Saveiro
• RD 350
• Bros 150

A RD 350 não funciona há anos. A Quantum fundiu o motor há um mês e meio ou dois. A Bros está sem placa e a Saveiro apresentou problemas na transmissão. Indícios de um bom momento para passar algum tempo em casa.
Tudo toma tempo do praça. Sem empregada doméstica, é necessário disponibilizar tempo para lavar as roupas. O mesmo acontece quanto à regularidade de alimentação. Solteiro não tem hora certa nem paradeiro para almoçar.
A energia se esvai.
Tenho em andamento uma pesquisa séria que desenvolvo há mais ou menos um ano na área de alimentação que converge conceitos de ordenação de produção, investimento multinível, adaptados à produção de sanduíches e cachorros-quentes. Já não é muito fácil ser criativo com as restrições convencionais. Quando há danos nos veículos ou no laptop, a coisa se agrava.
Sinto falta de minha filha. Sorte (?) ela não sentir o mesmo. Isso me corrói cronicamente por dentro, e muitas vezes vejo-me desumanizado. Um autômato.
Vou ao trabalho, meu chefe é um bajulador. Introduziu o lobby no ambiente operacional militar. Um herege. Acabou seu tempo de serviço e enrolou todo mundo para manter-se na cadeira de chefe – que deveria ter sido passada ao sucessor de direito. Discordo de sua importância.
Mulheres? Poucas são adequadas. Mesmo as que a gente cuida e se dedica podem tornar-se sem valor. No campo das vaidades femininas, não houve nada mais danoso às relações que a falsa sensação de poder que experimentam nos dias de hoje. Liberdade não é poder. É liberdade.
Poder é a capacidade de realizar algo.
A maior parte dos homens é limitado por uma mulher. No caso do solteiro, várias. Sendo difícil manter uma mulher contente anos a fio, o mesmo pode ser dito quanto a várias ao mesmo tempo, o que leva a crer que o homem deva dividir seu tempo livre com o menor número possível delas. A menor quantidade possível é uma.
Zero é inadmissível. Dado a quantidade de mulheres que necessitam quase patologicamente de atenção, muitas personalidades tornam-se tristes por não encontrar alguém apropriado. A maior parte sequer chega a sabê-lo.
E os homens – dentre os quais tenho a mim por exemplo raro – também têm suas dificuldades. A velha questão da grama do vizinho.
Diz-se que “a grama do vizinho sempre parece mais verde”. Não refiro-me à esposa em si, mesmo porque sou contra desejar a mulher do próximo. Alude ao que se observa diariamente: o homem casado sente-se confinado no paraíso. Por perfeita que seja a vida a dois, é como estar preso a somente um canal de televisão. É como se vivesse uma série de TV que se repete todo dia.
O solteiro por sua vez é livre. Mesmo que o mundo não lhe pareça um inferno, ele procura o paraíso. Às vezes observando com atenção alguma colega de serviço, noutras sendo gentil com alguma desconhecida que conversa animadamente sobre axé-music – enquanto você tenta se concentrar em seu inexplicável e complexo trabalho. Por mais diligente você seja no trabalho ou família, é sempre agradável encontrar pessoas “descomplicadas”. Esse é o trunfo do solteiro: poder avaliar em maior número e criar sua própria concepção das complicadas. Quando encontra algo promissor, basta uma aliança para que todo o organismo liderado pela mente feminina passe a se complicar.
Mas há de se ter alguém. Um homem sem uma mulher para minar-lhe eventualmente algumas iniciativas é um totalitário. Domina o mundo ao seu redor com relativa facilidade. Normalmente são os moradores solitários das mansões e proprietário dos carros esporte pouco vistos.
Entre as possibilidades abertas a qualquer ser humano ao acordar e sua realidade há a escolha do dia anterior. Beber menos.
No meu caso, o primeiro item que vem emperrando meu desempenho é uma briga antiga com a alavanca de câmbio de minha Saveiro. Há meses percebo certa dificuldade ao engatar a 5ª marcha, e a partir de ontem a ré já não funcionava. Provavelmente perderei meu sábado para consertá-lo. Fica para depois uma série de itens:
Lavar roupa;
Concluir planilha de controle de estoque para a lanchonete;
Concluir planilha de custos operacionais da equipe de hot-dog;
Concluir pesquisa jurídico-militar pessoal e reservada;
Editar livro sobre comunicações no controle de tráfego;
Editar livro sobre conceitos operacionais militares de comunicação.

Graças a um mero trambulador.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Tempo e dinheiro.
Com ou sem acento, é uma questão simples. Tem gente que crê que tempo é dinheiro.
O Comandante de minha Unidade perguntou-me como estava minha vida de solteiro. Respondi, decerto irrefletidamente, que as mulheres de meu tempo são diferentes das que estava acostumado a lidar. A vida de divorciado pode ser boa, na medida de que em tais condições perdem-se os grandes receios da vida. É mais fácil decidir coisas difíceis quando não há “interferência” no nosso decidir. Quando casado, havia sempre a preocupação de evitar os dissabores de explicar à cara metade uma série de problemas, inclusive a possibilidade de passar alguns dias “guardado” na Unidade. A vida de sargento casado muitas vezes é inferno e paraíso, num paradoxo que certamente repercute em nossas vidas profissionais.
Noutras vezes há certa graça que se eu pudesse, compartilhava com todo o efetivo. Quem vai dizer que nunca teve vontade de fazer valer a realidade do que você deseja às pessoas com que se convive? Fazer a diferença é um dos objetivos que se acredita mais nobre em qualquer ser humano.
Pouca coisa é mais gratificante – e motivante – que a aplicação completa de todo o potencial pessoal. Quando penso no assunto, é porque muitas vezes observo as diferenças no árido terreno da cadeia de comando. Relaxemos. Nada do que há de ser escrito que possa ferir regulamentos. Não mais do que costuma acontecer em decorrência de nossas omissões.
É questão de se registrar, antes que se perca a oportunidade e propriedade, que dos quartéis saem os brasileiros mais disciplinados. Se é que é possível discernir disciplina e acatação sem confundi-la com a aceitação irrefletida dos constantes abusos aos quais muitas vezes é submetido o funcionalismo público, quer na esfera civil ou militar. O ponto positivo de um quartel é a rotina. Permite que o indivíduo se organize e se concentre. Arte da vida de quartel.
Por outro lado, o ambiente de rotina faz com que o ser humano perca um pouco da criatividade característica do meio civil. Quando aparece um problema no funcionamento no seio militar, sempre é um caso novo que deve ser pesquisado. Com iniciativa regulamentar às competências é muito comum que ninguém tome posição alguma. Trata-se de um limbo orientativo que se agrava nas forças militares desde a transição de governo iniciada com Ernesto Geisel para as mãos da sociedade civil. A maior parte dos dispositivos implantados pelos militares como forma de contenção do interesse escuso privado no poder público já não subsiste.
Cinco presidentes militares foram suficientes para iniciar a ratificação da meritocracia. Como na vida castrense, qualquer grupo depende da existência e preparo de pessoas que orientem-se à formação de um grupo coeso para a obtenção de objetivos de grupos ou instituições. Gente que saiba exatamente o que se passa e o que fazer.
O que em outras palavras significa agregar potenciais.
Admito assistir poucos programas televisivos.Talvez herança de uma geração que acreditava que a mesma resulta em alienação, o fato é que costumo escolher com objetividade meus canais. Canais abertos foram abolidos há alguns anos de minha residência, substituídos por um canal onde é apresentado um programa do universo empresarial chamado ManagemenTV, que é bastante interessante. Conforme aplico alguns conceitos que desejo à Sala Telegráfica, obtenho resultados impressionantes. Faço-o porque dependo de meus colegas de trabalho para que possamos dar vazão ao fluxo operacional e administrativo violento no caso de queda de nossos sistemas de segurança – essencialmente digitais. Sempre será necessário disponibilidade de grupos de comunicação eficazes o suficiente para transmitir mensagens tão rápido como era feito quando ainda utilizavam-se telégrafos.
A disposição da doutrina militar vigente em décadas passadas faziam uso da distribuição hierarquizada de pessoas consubstanciadas às necessidades do Estado. Com o advento do avanço tecnológico de meios, essa cultura perdeu-se entre redes e servidores, numa falsa crença que tudo o que é necessário para a segurança de um país deva-se sobremaneira à tecnologia de informação. Fosse a afirmação verdadeira, não haveria como explicar o insucesso de qualquer país em empreitadas militares na comunidade árabe. Toda tecnologia de combate propagandeada pela CNN na guerra do golfo não eclipsa o fato de ter falhado, em variados escopos, o embate bélico. Por pessoas comuns, sem redes de comunicação desenvolvidas, com velhas AK-47. O natural espírito aguerrido do árabe sugere sua superioridade aos seus eventuais invasores.
Constato constantemente que o Brasil estava mais seguro quando havia telegrafistas militares. Quando a comunicação operacional e administrativa passava obrigatoriamente por equipes de serviço. Era mais difícil combinar desordem. Quando o explico para as pessoas, muitas apresentam tendência de crer que desejo o retorno de máquinas telex ou manipuladores às posições operacionais das atualmente capengas salas telegráficas da Força Aérea. Não é nada disso. É uma questão conceitual:
É mais difícil transpor homens que máquinas. Você pode pular uma catraca, driblar uma fechadura eletrônica, contornar o caminho de um tanque de guerra. Não pode contornar um sentinela atento e armado.
Trata-se da crítica natural de um militar – e militante sentinela – que assiste efeitos dos embates externos e faz análise própria dos fatos. Na maioria das guerras modernas há de se atentar ao fato que tecnologia não tem poder de ocupação. Gente tem o poder de ocupação, o que devolve ao elemento humano a habilidade de organização para consecução dos objetivos de sua nação. Para o militar médio é difícil ver com bons olhos a disposição com que sistemas distintos apóiam-se de forma dependente da rede Intraer, por exemplo. Companheiros mais antigos manifestam timidamente algum grau de preocupação que, mesmo considerando pouco específico meu conhecimento em redes digitais, acredito procedentes.
Faltou Luz. Quanto dura a bateria? 2214P
A luz voltou em cerca de quinze minutos. Quinze minutos sem recurso energético. Não dava para tomar banho, nem para passar a farda. Tempo perdido. Interrupção de rotina.
Quando a gente consegue tempo para pensar com mais calma, consegue sintetizar o dia. Proponho-me às vezes um esforço adicional para tecer minhas próprias anotações, madrugada adentro. As de cunho geral são mantidas no computador. As de cunho pessoal, em minha consciência. Às vezes, o que chamo consciência resume-se à simples idéia de continuidade da memória, ou seja: se aprender nada mais é do que lembrar o que já se sabe. Viver é aprender a conectar o ontem com o hoje.
Enquanto a gente aprende, é comum esquecer de fazer o registro. Minha própria experiência como estudante mostrou-me mais propenso a anotar o mínimo possível, mantendo o máximo de informação disponível em minha própria mente. Meus professores, num esforço de incentivar o desenvolvimento do raciocínio, insistiam para que não adquiríssemos o hábito de utilizar uma calculadora ou recorrer ao dicionário para verificar a ortografia de palavras de médio entendimento. Lápis com tabuada? Crime punível mesmo pela professora de português.
Tudo isso num colégio público, que decerto é sorte estar instalado na quadra de “primeirões” e “subões” da Aeronáutica. É necessário explicar a relevância do exposto:
Concorrência.
O colégio público instalado na SQS 214 acolhia a maior parte os filhos dos militares “de tropa”. Os filhos dos que não gostam de viajar – e portanto não se locupetam com diárias. Trocam viagens de ouro para estar mais próximos aos filhos e esposas. Naquele tempo, isso significava a impossibilidade de investimento no ensino particular. E a rede pública estava ali, perto de casa. Brasília de minha infância e adolescência foi “desenhada” assim.
Para os professores daquele colégio, a “unidade” em que trabalhavam era uma boca-pobre. Lidavam com os filhos de uns caras que sabiam exatamente como apertar um professor. Cobrá-lo para que deixassem seus filhos tão eficientes quanto eles mesmos o eram. Sinto que esse foi o pensamento de muitos, na época, enquanto seus filhos cresciam. Houve resultados. Grande parte de meus companheiros de aprendizado na referida escola encontram-se hoje em escalões diversos do governo. Aprendíamos que mesmo quando não há autoridade envolvida em suas ocupações, há um poder coletivo. Isso era transmitido, quase subversivamente, por nossos professores. Ensinavam que o controle de nossas vidas sociais dependia de modo intrínseco de nossas atitudes, gestos e moral.
Para os professores, errar a correção de uma prova era um inferno. Elas ensinavam um modo de resolver uma expressão, e o aluno não entendia. O pai ensinava a resolução de modo mais simples, e a professora não entendia. Dava meio certo na questão.
O pai ficava uma arara. Não iria perder um minuto de seu expediente para ensinar outro funcionário público do magistério. Na reunião de pais e mestres, havia professores humilhados em sequência, após entregar boletins de notas estratosféricas de garotos que em casa eram calmos, e na rua andavam perigosamente de bicicleta, acertavam automóveis durante jogos de “bete”, irritavam porteiros... e ainda passavam de ano! Reunião de pais e mestres eram aqueles encontros onde os mestres tinham que medir moral com os pais de crias aterrorizantes.
O resultado é que as aulas rendiam. Ao menos para os interessados.
Renderam tanto, que as criaturas aterrorizantes hoje estão, como foi dito, em diversas esferas do governo federal e estadual. Alguns são policiais civis, outros médicos. Uns policiais militares, outros militares do corpo de bombeiros.
De infância e adolescência, vários colegas empenham suas mentes e conhecimentos para irradiar o aprendizado das tardes e manhãs de um colégio civil, numa quadra militar. Na vontade de rever amigos, basta um passeio em quaisquer esferas do judiciário para saudar um ou outro velho conhecido. Tive um colega de classe na década de 90 que ia para o colégio “cumprir expediente”. Seu conhecimento genérico era superior à soma dos professores de nossa coordenação escolar, o que significava notas invariavelmente acima de 95 por cento. Jales prendeu japonês sozinho. Estimo que tenha deixado a Abin.
Como Jales, diversos de outros contemporâneos da idade escolar fazem expectativa de nossos desempenhos na vida adulta. Preparávamo-nos conscientemente para isso. Acreditávamos na verdade de que seríamos capazes de orientar parte do mundo à nossa volta, e fazer valer sonhos e desejos de nossos mestres e pais adquirindo-os como imagem única do destino que desejavam a seus netos. Isso faz-se presente quando extraímos impressões de nossos dias e prospectamos o futuro de nossos filhos. Sejam numerosos ou não.
Todos eles prestam atenção em como lidamos com nossa autoridade, traduzida esta pela imposição da moral individual com que desempenhamos nosso papel familiar. Alguns, como creio meu caso, atentavam também com a lida social e profissional com a mesma orientação indicada no meio familiar. Moral pública por conseguinte era reflexo de criação.
Os grupos de poder oficiais são tidos pelos titulares das cadeiras definida popularmente por “autoridade”. Brasília é uma cidade com formalidades de Estado e reverências típicas de uma corte. Muitos de nossos agentes políticos de governos eleitos – que confundem a si mesmos por indivíduos de Estado – evoluem na nada transparente nuvem de relações indiretas que dão acesso aos recursos dos incontáveis gabinetes distribuídos na capital. Poucos deles demonstram cultura profunda no sentimento definido por nacionalista.
Curioso também o sentido inverso, quando gente que participa de poderes tipicamente de Estado imiscui-se com o segmento político. Trata-se de um acesso pouco conveniente para o interesse público tipicamente castrense, esse mau hábito de tratar a resultados perenes decisões típicas das incoerentes gestões governamentais. Dessa relação de negação a princípios castrenses, portanto imprópria à experiência dos governos militares alimenta-se o lobby, bem como a reprovável prática de favorecimentos pessoais típica de habitantes da capital do país. Se antes o lobby era tido por um inconveniente administrativo para os governos militares mais severos, trata-se hoje de uma endemia. Incomoda-me profundamente percebê-lo cada vez mais freqüentemente. Cada vez mais próximo das posições operacionais militares que me foram confiadas.
Tenho um ponto de vista particular acerca de diversos assuntos pouco abordados pela maior parte das pessoas. Percebi também que há poucas pessoas que têm a habilidade de realizar atividades desagradáveis por mais desmotivadoras se tornem, contanto que acreditem na missão desempenhada. Desenvolvi essa capacidade por convivência no serviço militar. O gosto pela tenacidade de testar o organismo – e o ânimo – até o limite que se deseja que os demais o façam poucas vezes é desenvolvido voluntariamente. É outorgado pela necessidade do serviço.
Já tolerei escalas apertadas, escalas folgadas. Chefias ausentes, chefias problemáticas. Boas equipes, e colegas depressivos... sem a menor motivação pessoal para fazê-lo, a não ser colaborar com meus próprios convivas. No universo inverso à vida soberba dos gabinetes de governo, reconheço e atesto o valor de grupos de pessoas que assumem o serviço armado de suas unidades, complementam escalas diuturnas e ainda assim permanecem com espíritos quase sempre solícitos. Aplicam de tal modo o tempo de suas vidas a viver dentro de quartéis a ponto de ignorar que o mundo evolui lá fora, logo após a guarda. E é estupidez acreditar que se está seguro porque está dentro de um quartel. Isso nunca foi verdade.
A verdade é que os inúmeros sistemas de convocação, mobilização ou qualquer nome que se dê em casos típicos de um acionamento, nunca foram testados em conjunto, de modo saber de que modo o efetivo militar das forças militares se comportariam no conjunto, em caso de hostilidades externas. Principalmente se for considerado a inaptidão natural de nossos graduados na iniciativa de conter abusos em qualquer nível. Isso me irrita pessoalmente.
Isso porque não me considero o que desejaria ser. E realmente acredito que muitos de meus pares não têm a menor aptidão de tornarem-se muito mais eficientes que eu. Isso significa que estamos aquém do desejável. Todos nós.
Oficiais generais, superiores, intermediários ou graduados não apresentam no todo um grupo que eu qualificaria capaz de cumprir com nossas obrigações militares a contento no caso de hostilidades. Aproveito esse particular para expressar a pachorra pessoal afirmando que falta nos quartéis, em menor escala que no mundo civil, Moral. Com “M” maiúsculo.
Se entendi bem, moral é a constante aplicação da ética. Compreendendo por ética o que é bom para o indivíduo e a sociedade, muitas decisões a que se presencia negam o bem comum, excluindo-se da ética. Difícil caracterização que caracteriza abuso.
Produzir efeitos em homens, quando na cadeia de comando, significa utilizar um de dois dispositivos: a prerrogativa da competência e autoridade, ou a moral coercitiva. Chefia ou liderança.
É isso o que acredito que signifique honrar a farda. Saber lidar com a missão de cada força por uma ciência ou uma arte.

Creio que a cada brasileiro que é dado a autoridade de responder por integrante de uma força armada, a responsabilidade de realizar suas funções do modo que lhe pareça mais interessante, no prazo da vida útil do militar, de duração atual de 30 anos de serviço. A partir daí, essa “vaga de combatente” passa para seu substituto, que deverá primar em transmitir seu cargo com a mesma lisura que recebeu de seu antecessor.
Qualquer violação nesse dispositivo torna o indivíduo passivo de punição por atentar contra sua instituição ou costume. Mas há quem o arrisque.
Ocorreu-me identificar esses e outros empecilhos ao desempenho de nossas funções legais e permitir-me criar dispositivos para estudá-los, classificá-los, coibi-los dentro de nossas leis e regulamentos.
Enquadrá-los.
E vejo que a vida tem colaborado, determinando as atividades. Observo constantemente as necessidades de minha Força, e atento a formas de supri-las. Vejo que falta muito para que possa crer no potencial de nosso efetivo. Trabalhamos abaixo dos mínimos operacionais, tanto no campo pessoal como no profissional.
E ainda assim subsistimos em funcionamento.
No escopo que interessa informar a qualquer pessoa, há muito o que ser feito enquanto a estrutura não se desequilibre como conseqüência natural de ações particulares. Não tenho observado muitos exemplos de uma dedicação sincera, digna do empenho do esforço dos integrantes de minha Força. Em outras palavras, falta verdadeiros voluntários. Ruim não é estar pesarosamente consciente destes fatos e deixar-se aborrecer intimamente.
Ruim é nada fazer, por isso tento realizar algo a respeito, na medida que seja permitido todo dia.
A vida de comunicações é retransmitir de modo ordenado informações recebidas. Algumas a gente mantém como impressão pessoal, outras a gente simplesmente retransmite. Oficialmente, nada saber e esquecer o que lembrasse porta adentro do quartel. Essa é a regra e paradoxo básico.
Meu “proceder” é o mesmo dos antigos: manifestar-se quando a situação o exigir. Por isso escrevo pouco ou quase nada no livro de ocorrências de meus postos. Para que quando o faça, a vontade do Comandante da Guarda seja devidamente atendida. De presto, porque será cobrado mais tarde. Ninguém gosta de ser cobrado por seus subordinados. Nem eu.
E eles cobram. Cobram com o olhar quando permito que gente de moral duvidosa cause mal ao nosso funcionamento cotidiano. Soldados vêem cabos e sargentos que também foram soldados uma espécie de referência. Imponho constantemente à minha própria subsidiar essa referência para suas vidas civis. Ensino-os a evitar as panes. Ultimamente, dado a quantidade de problemas interpessoais que se perpetram nos quartéis, obrigo-me a deixar a explicação e abreviar a situação: ensino-os eventualmente a se defender. O conceito de defesa para o militar antigo da Proteção ao Vôo é extremamente mais complexo que a de qualquer profissão civil. Defesa jurídica. Procedimentos e dispositivos administrativos que asseguram que o que é relatado, reportado ou registrado – mesmo em um livro de memórias – não os conduza a uma cadeia disciplinar. Ao contrário, conduza à solução apropriada os setores pertinentes. Assim trabalha tradicionalmente o Operador de Comunicações Militares.
Para que eu possa escrever com essa desenvoltura em meu próprio laptop uso uma série de “filtros” pessoais. Isso assegura que o que vem à mente não seja “xeretado” eletronicamente. A barreira não é digital, não é física. É jurídica.
E recomendaria que outros brasileiros passassem a utilizar algumas dessas técnicas, as quais tenho a intenção oportuna de organizar.
Como escrever e explicar essa série de procedimentos sem ser submetido à avaliação psiquiátrica por algum alienado social qualquer, conforme já ocorreu com minha pessoa, é que é a arte. Um profissional militar de comunicações deve saber fazê-lo com precisão.
Para começar, o sigilo das comunicações é somente jurídico. Qualquer pessoa pode grampear um computador à distância como o é possível a um celular.
Logo, tudo o que é conversado, escrito ou codificado é passível de interceptação. Essa paranóia não é minha, é dos profissionais da Tecnologia da Informação. Essa turminha era doida para ter acesso às comunicações militares. Principalmente após o regime militar.
Lembro sempre que o trauma não é meu: é do cidadão comum. Nasci confortavelmente do lado de cá do prende, bate e arrebenta. Filhos da geração coca-cola.




Quando dedico algum tempo para registrar minhas impressões, quase sempre toma meu espírito a vontade de reagir com violência. Há vários tipos de violência, todo militar sabe muito bem isso. Militares de minha classe eventualmente a estudam.
Há a violência física. A desmobilização do inimigo pelo abatimento físico. O oponente torna-se organicamente incapaz de reagir com energia. Isso ainda não determina a vitória. O inimigo ainda pode se reerguer. Basta recursos.
A violência física tem origem nos pequenos embates quando criança. Quando as mais mimadas – e detestáveis – crianças choram para ter o que querem dos pais. Tentam fazê-lo com seus professores e muitas vezes conseguem sucesso, com a intervenção dos pais. Logo após, passam a chorar para seus coleguinhas, e vendo-os rindo, aproveita seu tamanho agigantado e partem para agressão física. Crianças que desenvolvem ração
Tem também a violência espiritual. Aquela em que o moral do oponente é afetado ao ponto de interiorizá-lo em definitivo. Torna-se um inimigo fraco de reação por omissão de sua própria vontade. O inimigo ainda pode reerguer-se, aliando-se ao que crê possível realizar e seus pares que pensem de mesmo modo. Um grupo vence quase todo oponente. O homem de fé sempre é um oponente que responde por vários, esse é o êxito dos “bons”, em toda extensão do termo. Homens ruins desagregam-se com facilidade.
‘ A violência moral se dá quando se ignora os limites da autoridade. Não o li em lugar nenhum, mas é constatável: uma das partes encontra-se amparada e é preterida dos interesses a que não negariam a ninguém. Isso ocorre quando um país invade outro “porque somos maiores e em maior número”, e também quando o superior ordena algo que visivelmente não é do interesse do serviço, mas agrada-o pessoalmente.
Contenho meu prazer em informar ter aprendido a utilizar as ferramentas disponíveis para a maior parte dos problemas do efetivo. E a solução vem do próprio efetivo, é o que leva a crer.
A relevância do que me presto a ocupar meus momentos de folga a compor essa redação é sentir-me verdadeiramente “de corpo presente”. Tomar as iniciativas que as pessoas que me cercam têm por desejo que alguém o faça.
Não busco glória, não me apraz valor. Também não tenho por objetivo participar do já instalado desassossego público. É transmitir parte do necessário para que pessoas passem a perceber, valorizar e respeitar cada militar que veste azul. Busco justificar meus companheiros. Afinal de contas, não creio que estejamos fazendo nosso melhor. Podemos fazer muito mais.
Lendo um livro de Jorge Motta, ex-secretário da Casa Civil do Distrito Federal, qualquer brasiliense é capaz de se identificar com seu estilo leve, explicativo de citar fatos e situações que determinaram a disposição geográfica de Brasília, e sua eficiência como cidade residência ao comando estatal do país Brasil.
Percebi que por mais complexas tenham sido as relações das pessoas às voltas do poder na década de 70, pôde-se esclarecer com certa ternura o clima de época, que alimentava as decisões de pessoas que criaram Brasília, minha cidade.
É estranha a sensação que me toma escrever o termo “minha cidade”. Muitas vezes pesa definir se a cidade é nossa – os cidadãos, ou somos nós quem pertence a ela. O que é possível sentir, quase palpável é o fato que há uma ligação muito forte entre Brasília e os que aqui habitam. Uma relação de amor e ódio, onde é possível admirar o respeito pela travessia de um pedestre à faixa com a mesma freqüência de delitos. A capacidade de relevar as imperfeições sociais quase sempre é originada na própria paciência que temos com nossos familiares. Relevar a impaciência da esposa, algumas atitudes dos filhos, tudo isso muito se assemelha da atitude que um cidadão radicado na cidade assume em relação ao que também não o agrada ao sair à rua.
Agora, mais de quinze anos depois de ser convocado “no laço”, sinto-me como uma bomba, pronta a explodir um período de reflexões. Percebo-me mesmo, capaz de dar ao efetivo recursos para que façam uso da legislação vigente, e passem a fazer parte das decisões de iniciativa presumida das autoridades. Usar o poder coercitivo do pleito da tropa. Necessidade do serviço. Tudo isso é possível resumir:
Aprendam a apertar autoridades.

terça-feira, 9 de março de 2010

SPY vs SPY
Clarity of mind
Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=AtQ9gETkF4g

Been years gone by
I’ve just abused my mind
My body’s paid the price
Come to a fork
I can go up or down
Or use my mouth too much
Oh lord, protect my words

Reality’s a matter
Of a clarity of mind

Take the things away
I like the look of that
It makes my mouth water
Left in the air
All the things i’ve said
You know they don’t all add
Now, who’s a muddle head

Reality’s a matter
Of clarity of mind


Clareza de pensamento



Anos têm se passado,
Eu simplesmente excedi minha mente
Meu corpo pagou o preço
Virando um garfo
Posso melhorar ou piorar
Ou usar demais a boca
Oh Deus, proteja minhas palavras

Realidade é questão
De clareza de pensamento

Deixe as coisas de lado
Gosto de como as coisas se apresentam
Isso dá fluidez à boca
Deixadas no ar
Todas as coisas que disse
Você sabe que nem todas cabem
Agora, quem é turrão(?)

Realidade é questão
De clareza de pensamento