sábado, 10 de abril de 2010

Awake...

Acordei à força. Depois do pernoite é antinatural para qualquer pessoa acordar sorridente. O agravante é que o cérebro rejeita qualquer situação desagradável.
Quando se acorda para a vida e tenta crescer rapidamente perde-se a paciência com pequenas coisas. Coisas que podem parecer mínimas. Um homem submetido ao pernoite tem mau humor característico de mulheres em “dias de chico”.
Mulheres incomodam-se com coisas que variam da desorganização da casa à tampa da privada levantada. Quanto à desorganização é fácil entender: ninguém que goste das coisas arrumadas tem paciência com quem bagunça.
A tampa da privada é uma questão mais pessoal. Mulheres não utilizam sanitários da mesma forma que homens, a não ser ao vomitar. Desejam que o mundo as receba com a tampa fechada e o assento limpo. Homens se acostumam com o tempo às condições adversas e inversas, por isso não nos incomodamos com muita coisa na vida. Simplesmente mijamos em pé.
A tampa da minha privada é quando dou atenção às suas atenções. Mesmo no ambiente de trabalho, com gente culturalmente selecionada, a tendência das mulheres ainda é optar por canais de reality shows, novelas e filmes adocicados. Informação zero. Isso é o que percebo trabalhando com as que passam em concursos públicos e se agregam anualmente ao ambiente militar.
O que pode uma mulher objetivar com tal informação?
A apelação magnética dos reality shows e novelas têm o mesmo efeito emburrecedor dos desenhos animados de minha infância. São passatempos do pior tipo para adultos. Mulheres parecem evitar o mundo dos adultos, sabe-se lá por que diabos. O fato é que quanto mais busco aperfeiçoar meu conhecimento, mais me distancio das pessoas “normais”. O universo da realização humana está longe dos roteiros de novelas. O universo do sucesso está longe dos reality shows, ao menos para os espectadores.
Tenho necessidade quase patológica de fazer algo útil em meus dias. Não teria o menor interesse em escrever novelas, mesmo que fosse-me permitido mudar todos os discursos imbecis de “Bela, a Feia”, “Viver a Vida” ou qualquer outro programa idiota produzido para crianças, homens ou mulheres.
Aliás, muitos dos programas para crianças estão indiscutivelmente superiores à maior parte das novelas. Desenhos animados evoluíram. Novelas não.
Novelas divulgam situações de traições, desavenças e estilos artificiais de personalidade. São péssimos para crianças, e mantêm adultos em pior situação do que crianças. O lixo televisivo do Brasil encontra seu expoente nas produções insossas de gente velha que recebe uma nota preta para compor novelas com personagens ridículos, temas ridículos e finais imbecis. É o trabalho mais fácil do mundo: adaptar a mediocridade de suas mentes para o universo televisivo de cada casa brasileira.
Quando eu era criança meu pai me advertia, às vezes silenciosamente, que eu deixasse de assistir desenhos animados e estudasse. Era seu modo muito particular de sugerir que deixasse o mundo infantil e passasse às ocupações definitivas: ocupações de adulto. Deixei de assistir desenhos animados aos 16 anos de idade, salvo engano.
Personagens de novelas são como adultos que continuam a agir como crianças débeis, choronas ou birrentas. Há pouca coisa que me irrite mais que mulher que comenta novela. É como se proibíssemos os meninos de assistir desenho obrigando-os a estudar e mulheres tivessem autonomia de assistir e analisar criancices o resto de sua vida! Enquanto homens buscam na medida do possível se informar para se formar pessoas melhores, mulheres buscam passar seu tempo. E passa. Depois têm dificuldade de fazer valer o valor próprio, o natural respeito que se presta a pessoas bem sucedidas.
O detestável em relação a isso é que quem “dirige” novelas é muitas vezes um homem. Dado o nível de nossas novelas, duvido que se trate de um homem bem informado. Trata-se apenas de um homem “esperto” em fazer dinheiro, não importa o prejuízo de julgamento que cause a um país inteiro perdendo tempo com sua criação imbecilizante. Isso não me parece inteligente.
O resultado é que muitas vezes quando acordo ouço como idéias para enriquecer:
- fazer miçangas com garrafas pet;
- vender licor;
- juntar latinhas para vender.
Pronto: esse é o destino da vida para a maior parte dos que não evolui: vender bugigangas para quem também não tem dinheiro. Por isso não conseguem nada na vida e têm que apelar para o coração dos outros para mantê-los à sua volta. Dando comidinha na boquinha para que a cara-metade não se aborreça com suas mediocridades.
Receio desnecessário. Homens que aceitam “comidinha na boca” são os que assistiram muito desenho animado, enquanto a mamãe fazia suas mamadeiras. O que busca se interar e crescer toma para si próprio as rédeas de suas vidas – e dispensam tal necessidade ridícula por um self-service. Ou aprendem a fazer por si mesmos.
Houve um dia que foi muito curioso. Havia sido posto na frente da casa de meu pai uma faixa escrito “vende-se licor de jenipapo”. Sempre fui pessoalmente contra fazer de residência local de comercialização de qualquer artigo. Tira a privacidade de uma casa. Por isso, enquanto desenvolvia a pesquisa financeira que envolvia um carrinho de cachorro-quente, não fiz o menor esboço quanto a propagandas congêneres. Meu jeitinho babaca de dar o exemplo.
Tive uma noite de sono afetado, como tantas outras noites de serviço. Acredito que ninguém seja capaz de manter um bom humor após anos nessa experiência. Decidi dormir para recompor o organismo.
Acordei nove e quinze da manhã. Palmas no portão. Um coroa com cara de quem faz uma caminhada queria saber o preço do licor. Eu não sabia, nem tinha o interesse de saber. Mandei voltar às seis da tarde. Tivesse chegado uns vinte minutos antes, talvez encontrasse a interessada. Voltei para a cama.
Alguns minutos depois, um carro buzina. Outro senhor – dessa vez de idade – queria saber sobre o licor. “Seis da tarde” – foi minha informação novamente. Comecei a perceber que independente ficar acordado ou não à noite, as outras pessoas não dão a mínima. Continuam exercendo o direito de viver suas vidas, promissoras ou não – e seu bom horário de sono.
Deitei novamente na certeza de que não iria descansar muito. Quando outro carro buzinou na frente da casa-imobiliária de meu vizinho – e superior hierárquico – não tive dúvidas: levantei-me e mantive o mau humor.
Durante o dia, já que não poderia dormir como um cidadão comum, decidi continuar minhas pesquisas. Irmão do meio e namorada trabalhando para particulares, irmão mais novo dormindo, o ambiente encontra-se em silêncio. É o momento que tento desenvolver o máximo possível, dado o prejuízo do sono interrompido.
É difícil resumir o que vem à mente e é cogitado para registro. Os assuntos se interligam do modo difuso como se apresenta: em quadros. Na hora de pôr no papel dá um branco danado. Daí, para manter-me acordado, empreendo atividades paralelas. Exatamente o contrário do que meus professores ensinaram, ao invés de me concentrar, faço o que me dá na telha: pôr as roupas em dia, fazer a manutenção de veículos, o que for. Aos poucos, o mais importante do dia anterior ou dos últimos tempos retorna à mente e é descarregado no papel. De um ou outro aperfeiçoamento de planilha aos registros de queixas pessoais, vou acrescentando e eliminando itens, de modo a aproximar-me do cotidiano que interessa: o que posso fazer para tornar as coisas mais próximas ao desejável.
É um saco, como escrever um blog. Nossa vida não interessa a ninguém, a não ser que se tenha os mesmos problemas e se debata soluções com outras pessoas. Preferencialmente pessoas com conhecimento de causa comprovado. Um blog dá abertura nos comentários a opiniões diversas – e muitas vezes contraproducentes.
Tem gente que é capaz de entrar em um blog para depreciar o que o outro pensa. Outros põem tudo o que é depreciável como pensamento. Desse jeito, ninguém vai a lugar nenhum.
Uma das conversas mais interessantes que tive foi justamente a respeito do registro da Bíblia. Meu interlocutor havia assistido um programa de TV sobre os pontos de vista de apóstolos que escreveram sobre Jesus. Estávamos curiosos quanto à possibilidade de terem sido influenciados por impressões, não fatos.
Mesmo com suas impressões, codificaram-se os fatos. E é o que dispomos.
Essa preocupação me faz cuidadoso quanto ao que decido escrever. A intenção é ser o mais preciso possível quanto aos acontecimentos. Os mais importantes. Mesmo na internet, é importante deixar nosso melhor, o que valha a pena ser lido.
O que vale a pena ser lido desse texto é que se o leitor algum dia enveredar-se pela atividade de comércio, tenha a sacada mínima de pôr, junto a qualquer informação de produto, um maldito telefone.
Mesmo os vizinhos merecem dormir sem ouvir palmas.

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