domingo, 25 de abril de 2010

Domingo

Domingo é um dia de reflexão diferente. É o dia em que qualquer brasileiro se prepara para a segunda-feira. Gosto de contemplar o andamento de nossos esforços e planejar como será a semana. Esse momento de reflexão que se renova cada semana torna os homens mais diligentes mais laboriosos, uma situação que o chinês Lin Yutang recomenda para a mais completa ociosidade.
Sem telefone funcional a tocar, colegas de interesses comuns a aborrecer com o resultado do futebol, o “pensar” é muito mais sereno. Em especial quando ninguém exige sua atenção, o que naturalmente consiste no inferno de um homem casado.
O homem solteiro tem muito mais tempo que o homem casado para ser eficiente. Seu tempo não é dividido em dois – ou três, quatro, cinco – pontos de atenção diferentes. Diria que é recomendável aos solteiros desenvolver aptidões e capacidades relevantes para seu cotidiano futuro. A vida adulta exige graus de aptidões a cada geração de conhecimentos diversos e de nível elevado.
Domingo muitas vezes é o dia que a gente lembra o quanto o homem casado precisa de tempo para si. O solteiro o tem em excesso, a ponto de não reconhecer seu desperdício em diversão de baixa qualidade como algo de se ter vergonha. Ir a um bom barzinho é um bom objetivo para um dia de domingo tanto para casados quanto para solteiros. A ressaca é que costuma ser diferente para cada um.
Sinto-me muitas vezes um solteiro especializado em parecer casado. Negando-me a tentar enganar as mulheres sobre o que não sou, muitas vezes percebo-me sabotando possibilidades de êxito sexual sendo chato. Justifico-me no seguinte:
Algum idiota dedurou a estatística que diz que mulheres têm necessidade compulsiva de falar pelo menos oito mil palavras por dia. É uma necessidade de comunicação que um homem que assuma profissões importantes tem dificuldades em cumprir.
Como toda profissão alimenta seus filhos e sua própria vida adulta, toda profissão é importante. Muitas são críticas, exigem um comprometimento maior que o convencional. O fato é que nem todo marido pode disponibilizar tempo para atender os caprichos de sua cara-metade. E isso é um inferno.
Já o problema do solteiro é quem ele vai “escalar” para o domingo.
Os solteiros mais perigosos são os que estabelecem estratégias para assegurar seu tempo livre. O tempo livre permite avaliar problemas e gerar pessoalmente as soluções. O solteiro pode passar o dia inteiro pensando estratégias diversas para começar uma segunda-feira botando pra foder.
A pior coisa que um homem casado pode fazer é um problema com um solteiro. Sua margem de concentração está comprometida com sua família. Seu eventual mau-humor não pode estragar as fotos dos eventos familiares. Do homem casado diligente, mal sobra disposição para as compras.
O solteiro faz o que mantém o homem ativo. Mesmo fumantes veteranos que têm alma de solteiro fazem o impensável com bicicletas, andam de moto no cascalho solto, arriscam-se a reconhecer os limites de maneabilidade de quaisquer de seus veículos. Tornam-se especialistas em deslocamento ligeiro em condições adversas. Para isso, desafiam sua própria capacidade.
O casado evita a todo custo entrar ou estar na frente de um solteiro. Todo solteiro perigoso é um bom candidato a homem bomba.
Qualquer homem que possua família deve saber reconhecer a coragem do homem casado que se permite voltar a ser solteiro. Abrir mão de tudo o que importa é algo para o qual ninguém nasceu. É necessário muito desprendimento para não se deixar levar pela fúria de perder a convivência dos seus para continuar cumprindo responsabilidades.
Isso faz qualquer cabra macho querer comer o fígado de qualquer filho da puta que lhe pareça conveniente. Felizmente, quando o homem se separa, aparece um monte deles. É só escolher alguns para imolar em sacrifício ao seu oráculo preferido. Militarmente, o meu é o regulamento.
Aprendi a trabalhar ou até torcer todos os regulamentos. Inclusive de trânsito.
Domingo é dia que o trânsito está fervilhando. Dia que as pessoas costumam sair em suas velocidades próprias. Vario constantemente a velocidade na qual dirijo. Hoje foi dia de andar à paisana, ou seja: devagar. Sem chamar atenção, chamo intimamente direção velada. Aquela que o cara sai para sentir a cidade, sacar os acontecimentos.
Avenida de acesso, barzinho na esquina. À direita da pista de rolamento um estacionamento de espaço exíguo. Motoristas dando marcha à ré bêbados. Vira B.O. ou papo de MSN. Passei ao largo.
Solteiro recém-reabilitado, registrei as bundas das peguetes. Tudo cachorra. Playboys, barões da pesada e solteiros com algum dinheiro passando o cerol na geral, catando as mais saidinhas para o motel escondido atrás do posto. Metem geral, até em mulher de malandro. Caixão e vela preta. Os playboys do centro da cidade muitas vezes invejam a liberdade dos fodidos da periferia, que têm muito mais diversidade em opções de mulher. Não falta cachorra nas periferias.
Continuei dirigindo. Aprendi que quando ingresso nesses ambientes, perco tempo considerável e dinheiro. As mulheres desses ambientes têm manias diversas, fogem ao controle facilmente. Para ser vista comigo, mulher tem que ser confiável e de fidelidade espartana.
Enquanto dirigia, pensava na segunda-feira. Diversos assuntos pendentes. Constato constantemente a necessidade de tomar medidas indesejáveis. Uma delas é fazer o reconhecimento IFF. Identification Friend or Foe. Plotar os oponentes.
Começa-se pelos casados. São presa fácil. Há um deles que interfere de modo negativo na vida de outros casados. Tá fodido comigo. Há anos venho me decepcionando com seu comportamento. Estou de olho há tempos.
Esta semana poderá ser memorável.
Próximo domingo poderá ser glorioso.

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