terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tempo e Dinheiro

Com ou sem acento, é uma questão simples. Tem gente que crê que tempo é dinheiro.
O Comandante de minha Unidade perguntou-me como estava minha vida de solteiro. Respondi, decerto irrefletidamente, que as mulheres de meu tempo são diferentes das que estava acostumado a lidar. A vida de divorciado pode ser boa, na medida de que em tais condições perdem-se os grandes receios da vida. É mais fácil decidir coisas difíceis quando não há “interferência” no nosso decidir. Quando casado, havia sempre a preocupação de evitar os dissabores de explicar à cara metade uma série de problemas, inclusive a possibilidade de passar alguns dias “guardado” na Unidade. A vida de sargento casado muitas vezes é inferno e paraíso, num paradoxo que certamente repercute em nossas vidas profissionais.
Noutras vezes há certa graça que se eu pudesse, compartilhava com todo o efetivo. Quem vai dizer que nunca teve vontade de fazer valer a realidade do que você deseja às pessoas com que se convive? Fazer a diferença é um dos objetivos que se acredita mais nobre em qualquer ser humano.
Pouca coisa é mais gratificante – e motivante – que a aplicação completa de todo o potencial pessoal. Quando penso no assunto, é porque muitas vezes observo as diferenças no árido terreno da cadeia de comando. Relaxemos. Nada do que há de ser escrito que possa ferir regulamentos. Não mais do que costuma acontecer em decorrência de nossas omissões.
É questão de se registrar, antes que se perca a oportunidade e propriedade, que dos quartéis saem os brasileiros mais disciplinados. Se é que é possível discernir disciplina e acatação sem confundi-la com a aceitação irrefletida dos constantes abusos aos quais muitas vezes é submetido o funcionalismo público, quer na esfera civil ou militar. O ponto positivo de um quartel é a rotina. Permite que o indivíduo se organize e se concentre. Arte da vida de quartel.
Por outro lado, o ambiente de rotina faz com que o ser humano perca um pouco da criatividade característica do meio civil. Quando aparece um problema no funcionamento no seio militar, sempre é um caso novo que deve ser pesquisado. Com iniciativa regulamentar às competências é muito comum que ninguém tome posição alguma. Trata-se de um limbo orientativo que se agrava nas forças militares desde a transição de governo iniciada com Ernesto Geisel para as mãos da sociedade civil. A maior parte dos dispositivos implantados pelos militares como forma de contenção do interesse escuso privado no poder público já não subsiste.
Cinco presidentes militares foram suficientes para iniciar a ratificação da meritocracia. Como na vida castrense, qualquer grupo depende da existência e preparo de pessoas que orientem-se à formação de um grupo coeso para a obtenção de objetivos de grupos ou instituições. Gente que saiba exatamente o que se passa e o que fazer.
O que em outras palavras significa agregar potenciais.
Admito assistir poucos programas televisivos.Talvez herança de uma geração que acreditava que a mesma resulta em alienação, o fato é que costumo escolher com objetividade meus canais. Canais abertos foram abolidos há alguns anos de minha residência, substituídos por um canal onde é apresentado um programa do universo empresarial chamado ManagemenTV, que é bastante interessante. Conforme aplico alguns conceitos que desejo à Sala Telegráfica, obtenho resultados impressionantes. Faço-o porque dependo de meus colegas de trabalho para que possamos dar vazão ao fluxo operacional e administrativo violento no caso de queda de nossos sistemas de segurança – essencialmente digitais. Sempre será necessário disponibilidade de grupos de comunicação eficazes o suficiente para transmitir mensagens tão rápido como era feito quando ainda utilizavam-se telégrafos.
A disposição da doutrina militar vigente em décadas passadas faziam uso da distribuição hierarquizada de pessoas consubstanciadas às necessidades do Estado. Com o advento do avanço tecnológico de meios, essa cultura perdeu-se entre redes e servidores, numa falsa crença que tudo o que é necessário para a segurança de um país deva-se sobremaneira à tecnologia de informação. Fosse a afirmação verdadeira, não haveria como explicar o insucesso de qualquer país em empreitadas militares na comunidade árabe. Toda tecnologia de combate propagandeada pela CNN na guerra do golfo não eclipsa o fato de ter falhado, em variados escopos, o embate bélico. Por pessoas comuns, sem redes de comunicação desenvolvidas, com velhas AK-47. O natural espírito aguerrido do árabe sugere sua superioridade aos seus eventuais invasores.
Constato constantemente que o Brasil estava mais seguro quando havia telegrafistas militares. Quando a comunicação operacional e administrativa passava obrigatoriamente por equipes de serviço. Era mais difícil combinar desordem. Quando o explico para as pessoas, muitas apresentam tendência de crer que desejo o retorno de máquinas telex ou manipuladores às posições operacionais das atualmente capengas salas telegráficas da Força Aérea. Não é nada disso. É uma questão conceitual:
É mais difícil transpor homens que máquinas. Você pode pular uma catraca, driblar uma fechadura eletrônica, contornar o caminho de um tanque de guerra. Não pode contornar um sentinela atento e armado.
Trata-se da crítica natural de um militar – e militante sentinela – que assiste efeitos dos embates externos e faz análise própria dos fatos. Na maioria das guerras modernas há de se atentar ao fato que tecnologia não tem poder de ocupação. Gente tem o poder de ocupação, o que devolve ao elemento humano a habilidade de organização para consecução dos objetivos de sua nação. Para o militar médio é difícil ver com bons olhos a disposição com que sistemas distintos apóiam-se de forma dependente da rede Intraer, por exemplo. Companheiros mais antigos manifestam timidamente algum grau de preocupação que, mesmo considerando pouco específico meu conhecimento em redes digitais, acredito procedentes.

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