domingo, 1 de novembro de 2009

Quer saber, apure.

Uma quase-loira está me empertigando a cabeça. Não atendeu o cel, nem ligou de volta. Há algo errado.

Há algum tempo, a gente tinha um “acordo pessoal”. Se ela ligasse, eu atendia de imediato se estivesse próximo ao telefone e vice-versa. Era gostoso quando vinha à mente aquele sorriso aberto que ela tem mania de soltar quando me via. Não tem acontecido isso, recentemente. Logo, bom apurar antenas...

Não é incomum que eu decida fazer algo e faça outra coisa completamente diferente. Muitas vezes é mais interessante fazer o que deve do que o que quer fazer.

Em vários campos. Do profissional, o afetivo, muitas de nossas decisões são tomadas em maior consideração de seus efeitos do que nossas vontades pessoais. Noutras, o inverso.

Minha confiança nas pessoas é um banco onde costumo sempre depositar. Se a confiança creditada não render, saco tudo e encerro a conta. Isso pode parecer radical ou exagerado. Mas a experiência pessoal fez-me assim. Tive excelentes situações de aprendizado.

Fui casado durante treze anos, e a maior parte das pessoas não faz idéia do que seja contornar situações indesejáveis por mais de uma década. Principalmente fazendo-o com alguém que gostava de decidir diametralmente às avessas de suas decisões. Acostumar-se à presença de um ou outro remador que reme ao contrário desenvolve “musculatura” para o restante da tripulação. Se não virar o barco antes.

A vida pessoal de cada um merece a liberdade de não ser criticada. Cada pessoa com quem se conversa tem direto a ser objetivo em suas vidas, ou não. Fórum íntimo, ou seja: aquilo que se decide ou julga conforme seu próprio entendimento. O que cada pessoa leva em consideração durante conversas ou discussões depende de sua percepção da situação. Por isso decidir pelo coletivo é tão difícil. Para um ponto de vista convergente ou divergente, há sempre uma percepção diferente de pessoa para pessoa. O que cada um percebe, é “arte” de cada mente – brilhante ou não.

Percebo que muitas vezes é improdutivo dar atenção a alguns detalhes da vida. Noutras, o “detalhe” muitas vezes economiza-lhe tempo. O tempo desperdiçado em algo que não dava mostras de solução.

É possível que o leitor já tenha passado por situações de decisão extrema. Na vida de um soldado, isso é uma constante. A gente se acostuma a estar sempre faltando algo à decisão. Quando há a faca e o queijo na situação, as mãos estão amarradas. Vida de soldado nunca é simples.

As pessoas ficam impressionadas com a capacidade destrutiva de um soldado bem treinado. E pra ser bastante sincero, meu santo está cansando. De saco cheio de ser enrolado a cada dia pelo governo, pela TV, vizinhos, conhecidos, parentes... todo mundo tem algum tipo de desagrado de tempos em tempos. Costumo explodir na freqüência de vulcões. Uma na vida, outra na morte alheia. De fato, vulcões só se demonstram vivos quando entram em atividade, e são tidos como inevitáveis.

Típico do milico. Com esse indivíduo, o treinamento em paciência é todo dia. Finge-se de morto para comer o cu do coveiro. O treinamento é diário e silencioso. Pode acontecer na fila de abastecimento, quando algum engraçadinho tenta adiantar-se para tomar sua vaga no estacionamento, ou mesmo quando percebe que há informações desencontradas.

Não creio ter dito, mas não sou afeto a escrever sobre minhas próprias experiências. Mas na maior parte das vezes nas quais tenho tempo de revisar atitudes, percebo que mais acerto do que erro. E isso é resultado de um treinamento. Não é bom que se externe o modus operandi que lhe dá uma cartada a mais no jogo da vida.

Na paciência de acompanhar o desenrolar de situações, o “radar” ao qual chamamos percepção normalmente se desenrola muito além das intenções do observador. Aprender é observar com atenção – e compreender.

Exemplo claro foi o seguinte acontecimento > conheci uma gata há algum tempo, e aproveitei a primeira briga para observar melhor à distância. Depois de algum tempo, houve rumores de que ela havia saído também com outro camarada. Disseram que ela “gostava de homem fardado”. Maldade, né?

Não sei. Na dúvida, perguntei se tinha rolado alguma coisa.

“- Não, nada a ver...”

“- Ok.”

Em outro momento, perguntei ainda à queima-roupa:

“- Tá com namorado, delícia?”

“- Não.”

Ou seja: um grupo de informações desencontradas. Para um milico, a vida é treinamento – e já tive problemas de mulher pulando cerca antes. Meu ponto de vista vai além da ofensa pessoal. É caso de vida ou morte. Se a mulher contrair doenças mortais e passar para o marido, ai dos filhos. Para não ter acesso a esse tipo de quadro, é bom observar bem o procedimento da gata que você está para “escalar” como sua. Digo escalar com a autoridade de quem pode escolher mulher. A estatística afirma: somos um homem para cerca de 7 mulheres. É muita mulher precisando de um “algo mais” na vida. Trepar, como ferramenta mecânica da arte de amar, não deixa de ser algo a mais. Só que é um algo a mais que deve ser abordado com certo cuidado. Ninguém gosta de ser componente de uma lista de prováveis pais. E nesse escopo, sou muito rigoroso.

Por isso sou “chato” em sacar a garota com quem deixo de usar camisinha. Observo seu comportamento sexual para obter melhor segurança de vida. E tem um detalhe: aprendi a ler em duas ou três transas, o “mapa mental” de desejos dessas criaturas esfomeadas.

Ela teve sorte esse final de semana. Fiquei de almoçar na cantina que ela toca no sábado, mas tive problemas diversos. Deixei para ligar mais tarde 18:09 da tarde. Normalmente, nos ligamos e atendemos de imediato. Até hoje faço assim com ela.

Só que o telefone tocou duas vezes e entrou a caixa de mensagens.

Esperei quase um minuto e liguei de novo. Tocou três vezes e entrou a caixa de mensagens.

O que isso significa?

Para um bom conhecedor de telecomunicações, quando se liga de celular para celular, o primeiro celular a receber o toque de campainha é o que recebe a ligação. Logo depois, o que fez a ligação. Para cada toque do outro lado, há um toque do lado de cá, e a comunicação só é desviada para a caixa de mensagens após tocar cerca de cinco vezes.

O celular tocou duas vezes, e certamente foi apertado o botão de ignorar. O serviço foi desviado para a caixa de mensagens.

Aguardei alguns segundos, na intenção de parecer desistir de ligar. Liguei logo após e contei de novo. O celular, que já havia sido devolvido à enorme bolsa – ou ao diminuto bolso – levou o tempo necessário para tocar três vezes e ser desligado. Comportamento comum quando se está consertando um carro, fazendo comida, transando ou prestes a transar.

Caso contrário, não vejo motivos para não atender um celular.

A curiosidade consome qualquer ser humano de senso lógico. A sorte da “galega” esse final de semana é que estou sem a motocicleta. Para um soldado treinado, patrulha é rotina. Uma camiseta diferente, um boné emprestado e alguns minutos no barzinho próximo e tudo se esclareceria.

Só que, como já foi dito, a vida de soldado nunca é simples. A moto, cheia de multas, está sem placa. Foi perdida há algum tempo, e para reemplacar é necessário pagar mais de mil e quinhentos reais em multa. Os outros dois carros: uma Quantum ou uma Saveiro, dependem do segundo dia útil para voltar a circular com segurança – e combustível adicional.

Logo, essa curiosidade ainda vai durar duas semanas. Informações de rotina sugerem que o alvo tem cumprido alternadamente a guarda da criança. Há de se considerar ainda a possibilidade de proximidade maior com o pai da criança – um desejo incontido de algumas mulheres malsucedidas no casamento.

Logo, a estratégia imediata é observar e esperar.

A vida de sempre de qualquer soldado.

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